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Preço da carne em 2026: qual o desafio para a operação do varejo supermercadista

02/12/2025 • Last updated 3 Days

Economia
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O varejo supermercadista deve enfrentar um novo desafio em 2026: a expectativa de alta de cerca de 10% nos preços da carne bovina. O movimento é consequência direta do ciclo pecuário, que entra em fase de restrição de oferta após anos de abate elevado, especialmente de fêmeas.

De acordo com análises de mercado, haverá menor disponibilidade de animais para abate no próximo ano, o que tende a pressionar os custos ao longo de toda a cadeia — dos frigoríficos até o ponto de venda. Para o varejo supermercadista, o cenário acende o alerta para impactos diretos na margem, na precificação e na estratégia de abastecimento.

A inflação das carnes já mostra sinais de aceleração. No acumulado de 12 meses, o avanço ultrapassa os dois dígitos, impulsionado principalmente por cortes populares como peito e capa de filé. A picanha, termômetro de consumo, também registra aumento.

Para o pesquisador da FGV-IBRE, Francisco Pessoa Faria, o movimento tende a atingir até mesmo os produtores rurais: "A inflação na carne bovina deve impactar até mesmo as margens dos produtores rurais".

Menos oferta, maior custo

O ciclo pecuário entra em sua fase de inversão após um período de forte descarte de matrizes. Segundo Fernando Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado, o efeito da restrição de oferta ficará mais claro no próximo ano:

"Em 2026, o processo de inversão do ciclo pecuário estará consolidado. Em 2024, houve um grande descarte de fêmeas, e esse movimento continua em 2025. Com isso, estimamos que haverá menor disponibilidade de categorias mais jovens para o mercado, o que deve fazer com que seus preços subam."

O analista explica que o fenômeno afeta diretamente o custo operacional da cadeia da carne. Com menos bezerros disponíveis, os preços sobem e chegam, em alguns casos, a ultrapassar o valor do boi gordo, elevando o chamado ágio da reposição — fator que impacta desde a originação até o abastecimento no varejo.

Exportação aquecida agrava cenário interno

A pressão é intensificada pelo ritmo forte das exportações. O Brasil deve fechar 2025 com recorde de embarques, superando 4 milhões de toneladas em equivalente carcaça, movimento que reduz a oferta disponível ao mercado interno.

Segundo levantamento da Datagro, a projeção é de queda de 7,5% no número de abates em 2026, totalizando 38 milhões de cabeças.

A consultoria explica: "Como o Brasil vem de quatro a cinco anos consecutivos de abate elevado de fêmeas, a tendência é que, em 2026, haja uma menor oferta de animais para frigoríficos. Com mais fêmeas retidas, o número de abates deve cair."

Neste ano, o Brasil deve atingir cerca de 41 milhões de cabeças abatidas, o maior volume da história. O ritmo elevado se sustenta tanto pela exportação quanto pela força do mercado interno.

A Datagro resume o momento: "Estamos com uma exportação muito aquecida e também o mercado interno é muito aquecido, então isso deixou que o Brasil abatesse perto desses quase 41 milhões de cabeças nesse ano."

Impacto direto no varejo supermercadista

Com cenário de oferta limitada e demanda elevada, o varejo supermercadista precisará adotar estratégias claras:

  • Revisão de contratos e negociações de fornecimento;

  • Ajuste do mix de cortes e estímulo a alternativas;

  • Comunicação estratégica para justificar reajustes;

  • Integração com indústria e distribuidores para reduzir rupturas;

  • Gestão de margem por categoria e não apenas por produto.

Mais do que repassar preços, será necessário gerenciar percepção de valor e fortalecer relacionamento com o consumidor.

Gestão, não apenas reajuste

Em 2026, carne deixará de ser apenas uma categoria de tráfego e passará a exigir gestão estratégica apurada dentro do varejo supermercadista.

“Com produto mais caro, ganha quem tiver inteligência comercial, negociação sólida e operação eficiente”, ressalta Fábio Queiróz, presidente da ASSERJ.