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Tarifaço: como manter o equilíbrio da sua peixaria?

28/07/2025 • Atualizado pela ultima vez 4 Meses

Economia
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Ele tomou conta do noticiário e do imaginário popular: o tarifaço dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Anunciada no dia 9 de julho e com início previsto a partir de 1º de agosto, a nova política tarifária unilateral norte-americana irá impor uma taxação de 50% sobre todas as importações de itens brasileiros. Diversos setores já sentem os impactos da medida e devemos estar atentos para nos anteciparmos. Um deles é o pesqueiro, um dos mais afetados, e que movimenta cerca de R$ 20 bilhões por ano, com exportações que de aproximadamente US$ 600 milhões.

Dependente do mercado estadunidense, o pescado brasileiro está, desde o dia 10 de julho, com exportações suspensas para o seu principal mercado, que concentra entre 70% e 80% dos envios de itens do setor. A exportação corresponde a cerca de 15% do mercado nacional, com destaque para tilápia, lagosta e atum de profundidade, produtos com a maior parte da produção voltada aos EUA. Esse cenário desafiador coloca empresas e pescadores artesanais em alerta e representa grandes prejuízos.

O governo busca formas de mitigar os efeitos como, por exemplo, a oferta de créditos emergenciais, além de manter a tentativa de negociação com os EUA. A Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), inclusive, já protocolou junto ao governo federal um pedido formal de R$ 900 milhões de crédito emergencial ao setor, com seis meses de carência e prazo de 24 meses para pagamento. A Abipesca também solicita que o pescado seja tratado com excepcionalidade e removido da lista de taxação.

”O que estamos articulando nesse primeiro momento é uma postergação de 90 dias para a entrada em vigor da taxação, para que com a tradicional diplomacia brasileira consigamos reverter isso. Precisamos fazer negócios, esperamos que nosso histórico de negociação, especialmente com o mercado norte-americano, fale mais alto e consigamos superar esse momento.", frisa Jairo Gund, diretor executivo da Abipesca.

E agora?

O setor pesqueiro vive um grande impasse. Como explica Rodrigo Leite, professor de Finanças e Controle Gerencial do Coppead/UFRJ, não há formas de contornar a situação a curto prazo sem negociar com os EUA. Diferentemente de outros artigos de exportação, como a carne, os pescados possuem mais dificuldade em diversificar mercados e escoar a produção, seja por questões logísticas, seja questões sanitárias, como o caso da União Europeia, que adota restrições sanitárias à importação de pescados brasileiros desde 2017. “O Brasil precisa agir em duas frentes: diplomática e estrutural. No campo diplomático, é urgente negociar uma exceção para setores sensíveis, como os pescados. Já no campo estrutural, é hora de acelerar acordos comerciais com mercados alternativos, como União Europeia e Ásia, além de qualificar sanidade e certificações para atender novos compradores.".

"Lembramos que nosso desejo de mercado principal sempre foi o mercado europeu, que está suspenso desde 2017 por outras questões", pontua o diretor executivo da Abipesca.

Nesse cenário de tentativa de reorganização da cadeia produtiva, o mercado interno é uma opção óbvia, mas é preciso cautela, já que a produção total não consegue ser absorvida pelos brasileiros, com destaque para artigos como tilápia e lagosta, itens voltados à exportação de alto valor agregado. “O mercado interno é sim uma opção, mas com a maior oferta o preço vai baixar e, consequentemente, a porcentagem estimada de lucro do setor também. O aumento do consumo interno pode ser uma saída para reduzir, mitigar um pouco o prejuízo geral de perda de produção, mas não funcionará como solução.", afirma Rodrigo Leite.

Impacto no varejo supermercadista: atenção e cuidado!

Para o setor supermercadista, no curto prazo, o cenário pode apresentar uma oportunidade de negociar um maior volume, redirecionando os produtos represados sem exportação e que ainda aguardam um novo destino. Mas para isso é preciso capacidade e estratégia logística para armazenar produtos que exigem um cuidado delicado e atenção aos vencimentos. Uma maior oferta pode, também, ajudar a baixar preços e aumentar o fluxo de clientes, incentivando promoções para que o consumidor escolha o peixe como proteína animal da dieta, conforme relata o professor de Finanças do Coppead/UFRJ: "No curto prazo, é um momento propício para o setor supermercadista apostar em negociar com o setor de pescados, aumentando a demanda da área e a oferta para clientes e apostar em ações de marketing, campanhas de publicidade para incentivar a venda, já que com a baixa do preço, reforço, em curto prazo, pode haver uma demanda pela troca da carne pelo peixe, por exemplo. Então, é um bom momento também para promoções, para incentivar a compra de pescado".

A médio e longo prazo, porém, a situação pode gerar também maior atenção para o setor supermercadista. Isso porque, sem a quantidade demandada pela exportação para os EUA, a produção de pescados nacional tende a registrar queda, o que acarretaria em uma diminuição de oferta e, consequentemente, o aumento de preços. Por ser um produto de difícil armazenamento, pode haver uma ruptura de estoque para quem não negociar ou não tiver uma logística atenta, então é preciso analisar e acompanhar os dados e movimentos futuros do mercado pesqueiro, como alerta Gund: "Com esse mercado fechado haverá um desestímulo nesse processo de produção primária, resultando, em seis ou oito meses, em redução nas ofertas do mercado interno”.

"Agora é hora de agirmos em conjunto, com inteligência comercial, para garantir abastecimento, equilibrar os preços, fazer boas negociações e ficar atento à logística.", destaca Fábio Queiróz, presidente da ASSERJ.

A ASSERJ acompanha com atenção os desdobramentos dos impactos do tarifaço para informar da melhor forma possível a todos os associados, e reforça que é fundamental agirmos com antecipação. Nosso setor possui um papel essencial na garantia da segurança alimentar e da estabilidade econômica do país e do estado do Rio de Janeiro.