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"Quando falamos de gerações, é preciso lembrar que estamos falando de pessoas", como criar vínculos com públicos diversos

15/08/2025 • Last updated 3 Months

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Na sequência do último dia do Conecta Varejo, uma provocação: você já se perguntou que idade tem a sua ideia? Como criar vínculos fortes no consumo? Essas indagações são essenciais para romper barreiras e criar formas eficazes de diálogo com públicos diversos e fidelizar clientes. Como construir pontes e comunicar com empatia e relevância? Para tentar analisar as questões relacionadas ao tema, Iza Dezon, CEO da DEZON, Andrea Bisker, co-CEO do Clube Aladas, e Mariana Fonseca, CEO da Mariposa, subiram ao palco para a apresentação: "Que idade tem a sua ideia? Como romper com rótulos geracionais e criar conexões verdadeiras?".

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Andrea Bisker, co-CEO do Clube Aladas e mediadora do debate, abriu a palestra destacando a quantidade diversa de gerações existentes no mesmo período de tempo: Quantas gerações temos convivendo hoje? São sete. Mas quais as diferenças entre elas? Temos quem está nascendo agora, que são os Betas. Depois, vêm os Alphas, nascidos a partir de 2010. Temos a Geração Z, que é aquela em que todo mundo está interessado — a geração dos 20 e poucos anos. Tem os Millennials, que têm entre trinta e quarenta e poucos anos. Eles sonhavam em solucionar o mundo, pois não tinham a preocupação de pagar as contas no final do mês, mas, hoje, essa preocupação chegou. Temos a Geração X, que é a minha, de 1965 até os anos 80, a super "Geração Sanduíche", que cuida dos pais e dos filhos. É essa geração que está repensando e revolucionando o que significa amadurecer. Junto com os Boomers, que são a sexta geração. Os Boomers, nascidos antes de 1965, também estão reinventando o que significa amadurecer, porque estamos vivendo muito mais. E temos ainda os filhos dos que têm entre 80 e 100 anos. Ou seja: são sete gerações convivendo ao mesmo tempo. Há muitos estudos que se perguntam: ainda faz sentido pensar em projetos, briefings e comunicações separando essas gerações? Para mim, faz sentido, mas somente se analisarmos todas as variáveis, porque é algo muito complexo. Quando colocamos todo mundo 'no mesmo saco', digamos assim, corremos o risco de perder nuances importantes. Mas o mais importante de tudo, quando falamos sobre gerações, é lembrar que estamos falando de pessoas. E muitas vezes nos esquecemos disso e, com isso, acabamos errando e perdendo grandes oportunidades".

Comunique com atenção, não rotule

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Iza Dezon, CEO da DEZON, alertou sobre os riscos de se apegar a estereótipos geracionais, que podem comprometer estratégias: "As gerações são convenientes, mas não suficientes. Elas marcam uma ideia que, muitas vezes, pode nos confinar. Existem cinco temas estruturantes que conectam as pessoas. Todo mundo aqui busca expressar identidade. Todo mundo, principalmente nesse momento do mundo, busca bem-estar. Tem gente virando de ponta-cabeça, tomando 'shot' de tomate, suco, ficando em jejum, raspando a língua... eu sei que parece loucura, mas todos buscamos bem-estar. Também buscamos crescimento, evolução não tem idade. Temos também os laços afetivos, sejam amorosos, de amizade ou emocionais. Todo mundo busca isso. E pertencimento, comunidade. Isso confirma que estamos indo além do consumo, estamos falando de desejos e estímulos pessoais. A partir daí, claro, podem existir traduções e expressões específicas para certos momentos da vida. Não temos conclusões fechadas, só abrimos várias outras".

"Tecnologia e longevidade, saúde e wellness, porque está tudo ficando na mesma caixa. Antes, parecia estranho a ideia de que viveríamos mais. Existia uma visão de que aos 65 anos a pessoa se aposentava, ia para a praia, e acabou o mundo. Mas essa não é mais a realidade, e já não é há muito tempo. Vivemos em um país que já é bastante envelhecido, considerando os padrões de países em desenvolvimento. Temos mais avós do que netos neste país e as pessoas não sabem disso, não falam sobre isso. E a tecnologia também está puxando essa pauta de forma muito intensa. Se você ainda tem dúvidas de que poderá viver muito mais, diminua essas dúvidas, porque, potencialmente, vamos viver muito mais do que imaginamos. E os signos da vida estão mudando muito", ressaltou Mariana Fonseca, CEO da Mariposa.

Mariana Fonseca ainda frisou: "Quando comecei a pesquisar sobre o tema, tomei vários sustos vindos do mercado. Porque, quando tentávamos fazer estudos, não existiam dados sobre quem é o público consumidor 60+ no Brasil. Quem consome? O que consome? E aí descobrimos uma caixinha gigantesca: todo mundo acima de 55 anos era jogado dentro de uma única categoria. Não tinha pesquisa, não existiam dados. As pesquisas iam até os 40 anos, porque o mercado não considerava o restante interessante. E estamos falando de uma geração que tem muito dinheiro. Então, por um incômodo técnico, mas também um incômodo real de mercado, percebemos que essa é uma população com dinheiro, com demandas, e que ninguém enxerga. Foi daí que decidimos fazer o primeiro estudo nacional, que é o Tsunami 60+. Rodamos a primeira edição em 2019, e tomamos um susto com o envelhecimento do país, com o poder aquisitivo e de consumo da faixa dos 50+, que não era endereçada por marcas, por empresas. Sem falar nos desafios sociais que vêm junto. Porque o Brasil é o primeiro país, entre os que estão envelhecendo em curva exponencial, que vai envelhecer sendo um país pobre. Não é como o Japão ou os países europeus, que envelheceram sendo desenvolvidos. Nós somos um país pobre que vai envelhecer".

O que antes era um olhar geracional, hoje é uma questão de hábito

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A CEO da Mariposa expôs: "Na prática, por exemplo, o mercado de tecnologia se surpreende muito com o não padrão das gerações no uso da tecnologia. Eu sempre digo que toda tecnologia que você cria só faz sentido depois que o usuário decide o sentido que quer dar a ela. Muita gente já errou achando que estava trabalhando com um target, com uma geração e, na prática, não estava. O TikTok é o maior case que temos hoje. Você vê grandes influenciadores na plataforma, desde os super jovens até influenciadores 60+. E o TikTok não foi pensado, necessariamente, para esse público. Com certeza, não era essa a expectativa, mas essa pessoa está lá e está usando o TikTok ativamente. Então, no olhar da tecnologia, tudo isso é bem transversal. Claro, existe uma fase de letramento, muitas gerações passaram ou ainda estão passando, e isso foi um baque para muita gente. Ainda tem muita gente fora desse mercado, mas, no fim, o que conta é o tempo de vida, o estilo de vida, o que a ferramenta traz ou proporciona. Por isso, acho difícil olhar só por gerações quando falamos de tecnologia. Porém, a gente já tomou muito susto até nas coisas mais básicas".

"A longevidade mudou a forma como olhamos para o envelhecimento. Envelhecer era uma preocupação. Mas, quando falamos de longevidade, a preocupação é estar bem no longo prazo, e não só o bem-estar do agora, deste momento. As pessoas começam a se preocupar com isso a partir dos 20 anos. Ou seja, começamos a olhar para a longevidade com outra perspectiva. Isso muda completamente aquela ideia de que o envelhecimento era um assunto só para quem já está envelhecendo. Mas não dá pra negar que a Geração Z, por ter nascido já imersa na internet, por mais discada que ela tenha sido, por ser nativa digital, tem um outro nível de exposição. Então, tem algumas distinções que são importantes para colocarmos todo mundo na mesma página", pontuou Andrea Bisker.

Iza Dezon concluiu: "Quem viveu os anos 80 e 90 lembra. As campanhas tinham que ter todas as idades, todas as etnias, todas as expressões de gênero, tudo. Cada campanha era um casting dificílimo e ninguém tomava partido. Acho super legal fazer campanhas diversas, plurais, mas também dá pra tomar uma posição. Coloca, sim, uma mulher mais velha. Coloca uma mulher fora de algum padrão e assim por diante. Então, pra mim, essa primeira tentativa de 'vamos representar todo mundo' não vai funcionar. Porque não dá para representar todo mundo. Por isso, quando olhamos para como a marca quer se posicionar, ela precisa escolher. No nosso estudo, identificamos isso claramente: as cinco marcas mais votadas por todas as gerações correspondiam diretamente aos cinco temas estruturantes que havíamos mapeado: bem-estar; identidade; crescimento; laços afetivos; e comunidade. Quando olhamos para essas marcas, vemos que cada uma tem um desses valores como espinha dorsal. E, a partir disso, encontra muitas maneiras de expressar esse único valor, adaptando conforme as gerações".

Conclusão? Estude seu público e comunique comportamentos

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A CEO da DEZON retificou o alerta inicial da palestra, não foque em rótulos geracionais, mas em hábitos dos consumidores: "Vivemos num mundo em que todo mundo quer abraçar tudo. Se eu apresento cinco tendências, a marca já pergunta: 'Como eu abraço as cinco?' E eu digo: não abrace as cinco tendências, assim como não dá pra abraçar os cinco temas estruturantes ao mesmo tempo. Você precisa escolher o que faz sentido para o DNA da sua marca. E essa deve ser uma pergunta estratégica para qualquer decisão de comunicação, marketing ou posicionamento. O mesmo vale para como falamos com as pessoas. Quando adaptamos os discursos, aí sim conseguimos campanhas mais direcionadas para grupos geracionais, faixas etárias, momentos de vida. A idade hoje significa muito menos".

"Ainda existe muita confusão. Então, eu gosto de explicar assim: por exemplo, o meu estudo mais conhecido, que se chama 'A Era da Emoção', eu apresentei em 2017. E agora, só agora, estamos falando sobre emoção de forma absolutamente mais democratizada, mais ampla, entendendo, de fato, aquilo que eu estava falando lá atrás. Quem trabalha com tendências precisa ser paciente. Porque muitas vezes a gente senta hoje e fala: 'Isso vai acontecer ao longo dos próximos 10 anos'. Então, é um processo. Mais do que prever, eu gosto de provocar: que as marcas venham com clareza sobre o que elas querem. Quais são as funções que elas desejam cumprir? Onde querem inovar? O que querem transformar no mundo? Qual é a proposta de existência da marca? A partir disso, olhamos para o mercado, para o contexto, para o poder aquisitivo, e entendemos com quem queremos falar. E aí, sim, podemos ser menos guiados por essa necessidade de 'acompanhar uma geração que está correndo na minha frente', prosseguiu Iza Dezon.

Mariana Fonseca retificou: "A questão é a personalização, como é que você vai conseguir de fato, com o uso de tecnologia e ferramentas, personalizar as experiências. E não é personalizar de achar uma caixinha e criar um padrão para aquela caixinha. É entender qual é o desejo que existe ali e esse desejo, com base de tecnologia, de poder ajudar a ser personalizado. As vezes, se organiza caixinhas porque é mais fácil fazer leituras, mas é preciso tomar cuidado porque as coisas estão mudando muito. Se apegar a esses estereótipos é arriscado em muitos casos".

Por fim, Andrea Bisker deixou uma mensagem: "O ciclo de vida impacta mais no consumo do que a geração. Não importa a geração que estamos, importa a fase de vida que estamos".

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