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Envelhecer é uma nova fase de consumo - seu supermercado está pronto para os 60+?

01/09/2025 • Atualizado pela ultima vez 3 Meses

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O Brasil vive uma gradual e profunda transformação demográfica com o envelhecimento acelerado da população. O redesenho da pirâmide etária e o aumento expressivo de pessoas na faixa acima dos 60 anos (grupo que ultrapassou 57% de crescimento desde 2010, segundo o último Censo do IBGE de 2022), aliado a queda da taxa de natalidade no país, apresenta uma oportunidade de momento - e uma necessidade futura - para o varejo supermercadista, ainda mais se considerar o fato de que, de acordo com as projeções, a população brasileira deve parar de crescer a partir de 2041. Com o novo cenário populacional, há uma redefinição do comportamento de consumo e entender esse contexto é fundamental para quem deseja inovar, criar conexões reais e fidelizar compradores e aumentar faturamento.

Um novo perfil de consumidor

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Historicamente negligenciado, geralmente tratado como um segmento homogêneo considerado a partir dos 55 anos, o público com 60 anos ou mais apresenta características específicas. Pesquisas recentes apontam pessoas nessa faixa etária têm comportamento de compra distinto: carrinhos menores, maior poder aquisitivo, maior fidelidade às marcas que confiam, mais consciência de consumo e de custo-benefício e foco em saúde, qualidade e conveniência.

Segundo o último levantamento Customer Insights, divulgado pela Rock Encantech, a população 60+ representa 18,6% do total de clientes do varejo supermercadista, sendo responsável por uma parcela considerável das vendas, variando de 19,2% a 25,5% (entre um quinto e um quarto do total comercializado, a depender do negócio). Se contabilizada a parcela 50+ (18,6%), que logo fará parte da categoria posterior, o total de consumidores chega a 37%, ou seja, mais de um terço dos shoppers. Ainda de acordo com a Rock Encantech, o ticket médio da categoria acima de 60 anos é de R$ 141,82 (já entre 50 e 59 anos, esse valor fica em R$ 163,71).

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Os levantamentos apontam para uma conclusão: entender e atender às necessidades dessa parcela da população é mais do que uma adaptação geracional, é uma oportunidade concreta de gerar valor e construir vínculos com uma base de consumidores cada vez mais representativa e que só tende a crescer. O tema, aliás, foi pauta no palco do Conecta Varejo / Rio Innovation Week.

"Quando comecei a pesquisar sobre o tema tentávamos fazer estudos, mas não existiam dados sobre quem é o público consumidor 60+ no Brasil. Quem consome? O que consome? E aí descobrimos uma caixinha gigantesca: todo mundo acima de 55 anos era jogado dentro de uma única categoria. Não tinha pesquisa, não existiam dados. As pesquisas iam até os 40 anos, porque o mercado não considerava o restante interessante. E estamos falando de uma geração que tem muito dinheiro. Então, por um incômodo técnico, mas também um incômodo real de mercado, percebemos que essa é uma população com dinheiro, com demandas, e que ninguém enxerga. Foi daí que decidimos fazer o primeiro estudo nacional, que é o Tsunami 60+. Rodamos a primeira edição em 2019, e tomamos um susto com o envelhecimento do país, com o poder aquisitivo e de consumo da faixa dos 50+, que não era endereçada por marcas, por empresas", Mariana Fonseca, CEO da Mariposa.

A experiência do consumidor 60+

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Essa população, tende a valorizar programas de fidelidade, atendimento humanizado e empático e experiências personalizadas. O público 60+ exige que as redes supermercadistas se afastem dos estereótipos geracionais e das soluções genéricas, adotando estratégias segmentadas, humanas e tecnológicas. Portanto, a comunicação deve ser baseada em comportamentos, não em idades, como explica Andrea Bisker, co-CEO do Clube Aladas: "Os Boomers, nascidos antes de 1965, estão reinventando o que significa amadurecer, porque estamos vivendo muito mais. E temos ainda os que têm entre 80 e 100 anos. Ou seja, hoje, temos sete gerações convivendo ao mesmo tempo. Há muitos estudos que se perguntam: ainda faz sentido pensar em projetos, briefings e comunicações separando essas gerações? Para mim, faz sentido, mas somente se analisarmos todas as variáveis, porque é algo muito complexo. Quando colocamos todo mundo ‘no mesmo saco’, digamos assim, corremos o risco de perder nuances importantes. Mas o mais importante de tudo, quando falamos sobre gerações, é lembrar que estamos falando de pessoas. E muitas vezes nos esquecemos disso e, com isso, acabamos errando e perdendo grandes oportunidades".

"As gerações são convenientes, mas não suficientes. Elas marcam uma ideia que, muitas vezes, pode nos confinar. Existem cinco temas estruturantes que conectam as pessoas: identidade; bem-estar; crescimento e evolução; laços afetivos; e pertencimento, comunidade. Isso confirma que estamos indo além do consumo, estamos falando de desejos e estímulos pessoais. A partir daí, claro, podem existir traduções e expressões específicas para certos momentos da vida. Não temos conclusões fechadas, só abrimos várias outras", analisou Iza Dezon, CEO da DEZON.

Mais do que rótulo geracional: o ciclo de vida é o fator-chave

A ideia central para atrair, estimular e fidelizar a população acima dos 60 anos está além dos rótulos geracionais. O cerne do pensamento é simples, mas direto: é preciso olhar comportamentos, estilos e fases de vida, sem necessariamente se apegar às questões etárias. "O ciclo de vida impacta mais no consumo do que a geração. Não importa a geração que estamos, importa a fase de vida que estamos", destacou Andrea Bisker.

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Ou seja, essa parcela relevante do público consumidor não deve ser encarada como uma categoria homogênea, mas sim como uma massa diversa, com necessidades e comportamentos diferenciados.

"As cinco marcas mais votadas por todas as gerações correspondiam diretamente aos cinco temas estruturantes. Quando olhamos para essas marcas, vemos que cada uma tem um desses valores como espinha dorsal. E, a partir disso, se encontra muitas maneiras de expressar esse único valor, adaptando conforme as gerações. Você precisa escolher o que faz sentido para o DNA da sua marca. E essa deve ser uma pergunta estratégica para qualquer decisão de comunicação, marketing ou posicionamento. O mesmo vale para como falamos com as pessoas. Quando adaptamos os discursos, aí sim conseguimos campanhas mais direcionadas para grupos geracionais, faixas etárias, momentos de vida. A idade hoje significa muito menos", pontuou Iza Dezon, CEO da DEZON.

Como o varejo supermercadista pode atender melhor os 60+

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Adotar estratégias centradas para esse público não é apenas uma ação de inclusão, é uma decisão estratégica. Confira algumas dicas:

  • Atendimento humanizado: treinar equipes para oferecer atenção, empatia, escuta e apoio. A qualidade do atendimento impacta diretamente na fidelização;
  • Serviços personalizados: entregas em domicílio com canais acessíveis, suporte na loja e orientação para o uso de tecnologias podem ser diferenciais importantes para facilitar o acesso;
  • Layout e sinalização das lojas: evitar barreiras físicas e visuais: corredores amplos, carrinhos especiais e letreiros grandes promovem uma boa experiência;
  • Engajamento e experiência: apostar em faixas de horário com menor fluxo e atendimento personalizado pode trazer mais conforto e segurança para esse público, fortalecendo a conexão emocional;
  • Produtos e formatos adaptados: embalagens práticas e alimentos funcionais, com foco em saúde, nutrição e conveniência, são bons atrativos;
  • Uso estratégico da tecnologia: personalização, ferramentas como gôndolas estendidas, programas de fidelidade inteligentes e ofertas com foco no custo-benefício;
  • Campanhas sem estereótipos: é essencial abandonar a representação ultrapassada do idoso passivo e valorizar a autonomia e a experiência.

"Outra iniciativa importante é a implementação de programas de cashback e benefícios, que se mostram fundamentais para atrair clientes com menor poder aquisitivo. Esses programas não apenas incentivam novas compras, mas também promovem a fidelização do consumidor", sugere Fernando Gibotti, vice-presidente de Varejo e Indústria da Rock Encantech.

Tamara Paccas, estatística de Inteligência de Mercado da Rock Encantech, salientou: "As marcas que desejam se manter relevantes devem adotar estratégias segmentadas, investir em programas de fidelidade robustos, personalizar promoções conforme datas sazonais e oferecer soluções que respeitem o momento de vida de cada consumidor".

"A questão é a personalização, como conseguir de fato, com o uso de tecnologia e ferramentas, personalizar as experiências. E não é personalizar de achar uma caixinha e criar um padrão para aquela caixinha. É entender qual é o desejo que existe ali e esse desejo, com base de tecnologia, de poder ajudar a ser personalizado. As vezes, se organiza caixinhas porque é mais fácil fazer leituras, mas é preciso tomar cuidado porque as coisas estão mudando muito. Se apegar a esses estereótipos é arriscado em muitos casos", frisou Mariana Fonseca, CEO da Mariposa.

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Envelhecer é uma nova fase de consumo

Com a projeção de mais de 21 milhões de novos idosos no Brasil até 2030, nosso setor precisa ajustar suas ações para encarar a longevidade do brasileiro como um mercado ativo, dinâmico e cheio de possibilidades. Isso requer o abandono de "achismos" e basear ações em dados, escuta ativa de consumidores, adaptação de experiências e, principalmente, na construções de conexões genuínas com os consumidores. Investir no público 60+ é investir no futuro do seu negócio.

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