
Como o design inteligente de lojas pode impedir furtos

Soluções de alta tecnologia, como câmeras inteligentes, sensores e sistemas baseados em inteligência artificial, têm sido apresentadas como o futuro da prevenção de perdas no varejo. Mas um novo olhar começa a ganhar força: o do design inteligente de lojas — uma abordagem mais humana e estratégica, capaz de prevenir o crime antes mesmo que ele aconteça.
No Brasil, números chamam atenção. De acordo com a Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe), as perdas totais no varejo atingiram 1,36% do faturamento do setor em 2024, o que representa mais de R$ 30 bilhões.
Para Carlos Eduardo Santos, presidente da Abrappe, repensar o ambiente físico pode ser tão ou mais eficaz que investir em equipamentos de última geração. “A prevenção de perdas vai muito além da tecnologia. O design da loja, o comportamento dos colaboradores e a experiência do cliente formam um ecossistema que precisa funcionar de maneira integrada. A arquitetura pode, sim, ser uma ferramenta poderosa para inibir o furto antes que ele ocorra”, explica Santos.
O poder do design sobre o comportamento
A ideia vem do conceito de Crime Prevention Through Environmental Design (CPTED) — ou prevenção do crime por meio do design ambiental —, que propõe reduzir oportunidades de crime através do planejamento do espaço físico. Isso inclui desde a visibilidade das áreas da loja até o posicionamento de produtos e checkouts.
Um estudo conduzido pela Universidade de Leeds, no Reino Unido, mostrou que a disposição das prateleiras, a iluminação e a linha de visão dos funcionários influenciam diretamente o comportamento dos potenciais infratores. Ladrões entrevistados no experimento relataram que câmeras e alarmes “não eram dissuasores eficazes”, mas que a sensação de serem observados por outras pessoas — funcionários ou clientes — fazia diferença.
“No Brasil, ainda falamos pouco sobre o papel do design na prevenção. O varejista está habituado a pensar em segurança como sinônimo de câmeras e etiquetas eletrônicas. Mas, muitas vezes, um simples ajuste de layout, um corredor mais iluminado ou um posicionamento estratégico de produtos sensíveis já ajudam a desestimular o furto”, complementa Santos.
Pequenos ajustes, grandes resultados
Entre os elementos que mais contribuem para reduzir furtos estão:
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Layout aberto, que permite ampla visão dos funcionários sobre o salão de vendas;
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Espelhos estratégicos, que ampliam o campo de visão e criam uma percepção de vigilância;
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Caixas próximos à saída, forçando o fluxo de clientes a passar por áreas supervisionadas;
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Produtos de maior valor posicionados em locais de alta visibilidade;
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Organização e limpeza constantes, que transmitem atenção e controle.
“Quando a loja está desorganizada, com prateleiras vazias ou produtos espalhados, o ambiente comunica negligência. O oposto também é verdadeiro: um espaço bem cuidado passa a mensagem de que há atenção constante”, afirma o presidente da Abrappe.
Tecnologia e design: integração, não substituição
Santos reforça que a tecnologia continua sendo um aliado importante, mas que o grande diferencial está na integração entre soluções digitais e boas práticas físicas.
“Câmeras, sensores e IA são fundamentais para o diagnóstico e a resposta rápida. Mas elas não substituem o fator humano e o olhar estratégico sobre o ambiente. A combinação entre design inteligente e tecnologia gera uma prevenção mais completa, mais barata e muito menos invasiva.”
Loja bonita, segura e acolhedora
Além de reduzir perdas, o design preventivo também melhora a experiência de compra. “Quando o cliente se sente confortável e percebe que o espaço é bem cuidado, ele passa mais tempo na loja, consome mais e volta com maior frequência”, destaca Santos.
“A beleza do CPTED é justamente essa: é possível reduzir o furto e, ao mesmo tempo, criar um ambiente mais agradável para quem compra e para quem trabalha. A segurança não precisa ser hostil — ela pode ser inteligente, discreta e humana.”
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