Gripe aviária: Brasil na expectativa de voltar a ser considerado livre do vírus H5N1.

Atualização (22/5)

O Brasil precisa passar 28 dias sem registrar novos casos de gripe aviária para voltar a ser considerado livre do vírus H5N1. A estimativa foi feita pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, que explicou que esse período corresponde ao ciclo do vírus. Se não houver novas ocorrências nesse intervalo, o país poderá iniciar o processo de retomada das exportações de frango.

A suspensão das vendas internacionais foi uma resposta imediata de mercados como China, União Europeia e Argentina ao primeiro caso da doença identificado em uma granja comercial brasileira, localizada em Montenegro (RS), e divulgado em 15 de maio.

A desinfecção da granja de Montenegro terminou ontem (21) e, a partir desta quinta (22), se o Brasil não registrar nenhum outro caso em granjas em 28 dias, pode se declarar livre da doença.

É importante ressaltar que, segundo o Ministério da Agricultura, não há qualquer risco à saúde humana no consumo de carne de frango ou ovos.

“Se em 28 dias não houver nenhum outro caso, poderemos, com base científica, afirmar ao mercado internacional que o Brasil está novamente livre da gripe aviária”, declarou Fávaro.

O ministro alertou, no entanto, que o fim desse prazo não garante a reabertura automática de todos os mercados. “É natural que muitos países façam questionamentos e busquem esclarecimentos antes de retomar as importações”, destacou.

Fávaro acredita que, após os 28 dias, as restrições mais amplas — como as impostas por China e União Europeia — tendem a ser gradualmente substituídas por medidas mais localizadas, limitadas ao estado do Rio Grande do Sul ou, especificamente, ao município de Montenegro.

“O fundamental agora é garantir o bloqueio eficaz e o rastreamento completo de tudo que saiu da granja afetada. Ao inutilizar toda essa produção, conseguimos reduzir significativamente o risco de novos focos da doença”, concluiu o ministro.

Relembre o caso

A confirmação do primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial brasileira — localizada em Montenegro, no Rio Grande do Sul, na semana passada — acendeu o sinal de alerta no setor avícola. A reação internacional foi imediata: países como China, membros da União Europeia, Argentina, Uruguai, México, Chile, Coreia do Sul, África do Sul e Canadá anunciaram a suspensão temporária da importação de carne de frango brasileira. O bloqueio pode gerar perdas de até US$ 1 bilhão para o setor nos próximos 12 meses, de acordo com estimativas preliminares.

A interrupção das exportações deve pressionar a cadeia de abastecimento interna. Com mais carne de frango e ovos disponíveis no mercado nacional, a tendência é que os preços desses produtos nos supermercados recuem no curto prazo.

“A sobreoferta pode gerar uma queda nos preços, já que a produção inicialmente destinada à exportação será redirecionada ao consumo interno”, explica André Braz, coordenador dos Índices de Preços da Fundação Getulio Vargas (FGV). No entanto, ele faz um alerta: “Esse alívio para o consumidor tende a ser temporário. Com a demanda externa reduzida, os produtores devem ajustar a criação de aves, reduzindo a produção para evitar prejuízos”.

A avaliação é reforçada por Flávio Graça, consultor de Alimento Seguro da ASSERJ: “O caso ocorrido na granja comercial provocou até agora a suspensão temporária dos embarques de frango para os principais compradores do Brasil, incluindo a China, nosso maior cliente. Essa medida pode levar a um aumento da oferta no mercado interno, com possibilidade de queda nos preços do frango e dos ovos e até reflexo na inflação”.

Além da possível retração de preços nas gôndolas, o setor produtivo já se mobiliza para conter impactos mais severos, como prejuízos financeiros nas granjas. A busca por alternativas de financiamento — como antecipação de recebíveis e capital de giro — deve crescer entre os avicultores.

O Ministério da Agricultura acompanha a situação de perto. Caso não surjam novos registros da doença nos próximos 28 dias, o Brasil poderá reaver o status de livre da gripe aviária, o que abriria caminho para a retomada das exportações. Até lá, o consumidor pode encontrar preços mais acessíveis no setor de proteínas avícolas, mas o cenário permanece instável e sujeito a mudanças rápidas.