Trabalhabilidade: melhor aprender para empreender melhor

Encerrei o artigo da edição anterior desta SUPER NEGÓCIOS questionando o seguinte: “Como lidar humanamente com tanta inovação? A resposta: sendo mais humano! Se toda a inovação vem da mente humana, então nenhuma inovação será mais poderosa do que a mente humana e a sensibilidade humana”. Daí que, nesta presente edição, inspirada no tema das conexões humanas e tecnológicas, cabe estender ou acrescentar algumas novas reflexões.
A primeira delas é que, além da empregabilidade, chegou a hora da “trabalhabilidade” – conceito que ouvi pela primeira vez de Jacqueline Resch, da consultoria Resch. “A forma de trabalhar não para de mudar, temos cada vez mais fornecedores autônomos, responsáveis pelo próprio portfólio de serviços, e clientes microempreendedores, com demandas muito específicas. Precisamos sem dúvida capacitar a nossa trabalhabilidade”, me alertou Jacqueline.

De fato, nos últimos 40 ou 50 anos, as mudanças no mundo corporativo foram imensas. Carreiras de baby boomers, hoje na faixa de 60-70 anos, não existem mais. Para eles havia o emprego vitalício, com planos lineares e promoções periódicas. Antiguidade era posto. Nos anos 90, a reengenharia administrativa impôs mudanças na fórmula do “longo prazo em uma única empresa”. Foi quando surgiu o conceito de empregabilidade. A carreira ultrapassou as fronteiras da empresa, de modo que os esforços e os investimentos para manter a empregabilidade em alta (e ser desejado pelo mercado) passaram a ser um compromisso pessoal, e não mais uma obrigação laborativa.

mindset era limitado a “ter um emprego”. Hoje, são visíveis os indicadores de que essa era da empregabilidade está ultrapassada. O modelo não dá mais conta dos desafios atuais. As formas de trabalho já são (e cada vez mais serão) diversas. Vemos o avanço do “auto-emprego”, dos profissionais de carreira solo que trabalham por projetos, tempos determinados e atividades simultâneas.

A ótima notícia é que nossos filhos ou filhas já sabem dessa nova era da “trabalhabilidade” e não vão repetir o erro de apostar o futuro só no Estado. Os jovens fazem parte do que eu chamo de geração baby chip, que já vem com DNA digital e é focada em inovação e transformação, ou seja, conhecimento em movimento. O barato dessa turma é sonhar com a nova Apple, o novo Google, o novo Facebook, o novo Twitter, o novo Whatsapp, o novo Instagram… o novo… A galera quer “acesso” pela tecnologia e “ascensão” pelo empreendedorismo. Ninguém quer saber de INSS, FGTS, PIS, CLT, carteira assinada… direitos adquiridos.

A “trabalhabilidade” também não tem expectativa em relação a governos ou partidos. Deles (e de seus modelos arcaicos ou analógicos), os jovens não esperam saídas fáceis para suas vidas high techs e digitais. Só esperam que o anacronismo não dificulte ou não atrapalhe seus smartplans e smartdreams.

Enfim, a melhor “trabalhabilidade” e as melhores tecnologias não são aquelas que olham para os concorrentes, mas sim aquelas que olham para os clientes. Entre as que olham para os clientes, as melhores são aquelas que buscam “conhecer” e “entender” os problemas dos clientes a fim de “ajudar” ou “solucionar” os problemas dos clientes. É essencial que o boom de inovação não estimule a escassez de ideias, principalmente de ideias humanas; ideias que valorizem sempre o capital humano; capital humano baseado sempre na generosidade, na gentileza e na gratidão. Não há inovação capaz de tornar obsoletos esses “produtos”, “serviços” ou “sentimentos”. O barato é o chip, mas o segredo continua na alma.

ALEX CAMPOS é palestrante, jornalista, colunista de Economia da rádio JBFM (RJ), sócio-diretor do portal ideiasideais.com e autor do livro “Faça as Pazes com o Dinheiro”.

*Artigo publicado na revista Super Negócios (7)

Por Publicado em: 26 de dezembro de 20180 Comentários