Supermercado cria carrinho adaptado para garoto de 14 anos a pedido de sua mãe
Caso aconteceu no Sul, mas no Rio redes já oferecem este diferencial
Viralizou na internet esta semana a alegria do passeio de uma mãe com seu filho, num carrinho adaptado, num supermercado de Porto Alegre. O post era um agradecimento de Luciana Cassal ao estabelecimento, que atendeu ao seu pedido e disponibilizou o utensílio para que ela pudesse fazer as compras com o filho. João Victor, de 14 anos, nasceu com a Síndrome de Angelman, um distúrbio neurológico que provoca uma série de comprometimentos físicos e mentais.
Apesar de pouco divulgada, a iniciativa dos carrinhos adaptados já é uma realidade em alguns supermercados do país. No caso de Luciana, foi por meio de uma postagem de uma outra mãe do Rio de Janeiro que ela ficou sabendo da existência do utensílio.
-Quando vi o post daquela mãe carioca sobre o carrinho de supermercado adaptado, a realidade caiu sobre mim. Há quanto tempo meu filho não ia somente comigo ao supermercado? Eu não tinha cogitado a possibilidade de já existir um carrinho adaptado. Não pensei duas vezes, apontei a dificuldade para a Cia Zaffari, mostrei a solução e o resultado da implementação que ocorreu no Rio de Janeiro – disse Luciana.
A gaúcha, mãe de 2 filhos conta que precisou adaptar a vida às necessidades especiais de João Victor. Formada em Publicidade e Propaganda, ela trabalha como autônoma na criação de logomarcas e artes para material gráfico, além de ter um atelier virtual de papelaria personalizada para festas e lembrancinhas infantis.
-O trabalho convencional é outro desafio para pais de crianças com necessidades especiais. Este foi o caminho que encontrei para poder conciliar a carreira com as consultas, terapias e exames do meu filho- contou Luciana.
Apesar das limitações, os pais sempre fizeram questão que João participasse dos programas familiares.
– Desde pequeno, nós sempre fizemos muitas atividades com ele. Vamos a parques, cinemas, praças, praias, viagens, shoppings, etc. Enquanto eles são pequenos, não sentimos tanto as dificuldades, mas com o crescimento, todas as barreiras começam a ficar mais evidentes – explicou a gaúca.
Luciana lembra que, embora as leis ajudem, ainda falta acessibilidade nas coisas mais básicas, como por exemplo o nivelamento das calçadas, as rampas de acesso e a pavimentação das ruas.
– A minha luta no momento tem sido as calçadas do bairro onde moro. As pessoas não percebem que para nós a dificuldade sempre vai existir, pois tudo exige um esforço além do natural. Precisamos que a sociedade minimize as barreiras e não as dificulte ainda mais. Manter a calçada plana e em condição de todas as pessoas transitarem sem perigo, sem dificuldade, é uma questão de cidadania. O direito de ir e vir de todos começa por cada um. Isso é respeito ao próximo. Infelizmente, é isso que mais falta: empatia e responsabilidade social – afirmou Luciana.
Sobre a experiência de João Victor no supermercado, Luciana relata o quanto foi importante para ambos:
– Ele adorou! Inicialmente, ficou encantado com o carrinho, explorou, tocou, sorria muito. Estava muito feliz e satisfeito. Interagia com as pessoas, com o ambiente. Tenho certeza que ele adorou o passeio. Poder fazer algo tão trivial com ele me trouxe uma sensação maravilhosa de esperança, de fé na humanidade. Inclusão é isso. Em vários momentos, fiquei emocionada e pensei: sim, tem muita coisa ruim acontecendo no mundo, tem muita coisa para melhorar lá fora, mas ainda é o amor que move o mundo. É o sorriso satisfeito e verdadeiro de um garoto repleto de limitações, mas que por causa de uma única ação pode estar ali fazendo compras com a sua mãe no supermercado.