Seminário destaca o foco no consumidor para o desenvolvimento do setor supermercadista e do varejo em geral
Cultura de dados, tendências do varejo, psicologia do novo consumidor, cases de sucesso da indústria, inovação e o cenário macroeconômico. Todos estes temas foram abordados na segunda edição do Seminário Super Negócios – Marketing e Compras, realizado pela Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (ASSERJ), nesta quarta-feira (28/09), na Cidade da Artes Bibi Ferreira, na Barra da Tijuca (RJ). O evento, que reuniu cerca de 500 profissionais, contou com oito palestras, exposição de produtos, coquetel e muito networking.
O presidente da ASSERJ, Fábio Queiróz, ressaltou, em seu discurso de abertura, a importância do setor supermercadista no abastecimento da população. “Passamos pela pandemia, que ainda não acabou, fomos surpreendidos pela guerra na Ucrânia, e, até hoje, não deixamos faltar nada em toda a rede de supermercados do Brasil. Vencemos tudo isso até hoje. O dia de amanhã, não sabemos, mas, o poder e a responsabilidade que os supermercados têm de atender a população é enorme. Para isso, precisamos continuar desenvolvendo nosso setor, unindo varejo, indústria e inovação. O sucesso deste seminário não se esgota hoje, ele será um elemento catalisador para os próximos anos”, comentou.
E foi em busca deste desenvolvimento que o seminário se concentrou, tendo o consumidor como protagonista das discussões. Psicólogo empresarial, Fredy Figner abriu os trabalhos apresentando um retrato das gerações, ressaltando questões como os processos de automação, conectividade e, principalmente, o avanço dos grupos identitários. “Tudo isso vai mudando a relação de consumo”, afirmou.
Segundo Fredy, investir no marketing sensorial, explorando os cinco sentidos, é fundamental para aumentar as vendas. “De 85% a 95% das compras são subconscientes, por isso precisamos ter os gatilhos emocionais nos pontos de venda. As pessoas são influenciadas pelo passado para tomar as decisões, e o olfato é o sentido que mais remete às lembranças”, explicou.
Colocar o foco no cliente foi a resposta que a Ambev encontrou para retomar o crescimento depois de um período de estagnação, como contou o diretor de Trade Marketing, Nelson Mattera, “A companhia, que nasceu há 20 anos da fusão da Brahma, Antarctica e Skol, se tornou uma das maiores empresas de bebidas do mundo. Porém, houve um momento, perto de 2015, que paramos de crescer. Olhamos para dentro e percebemos que a forma havia mudado. O que nos levou até aquele ponto, não necessariamente nos levaria para os próximos passos. Foi assim que implementamos uma mudança de cultura, com forte investimento em tecnologia, e colocando o consumidor no centro do nosso ecossistema”, relatou.
Hoje, a Ambev conta com mais de 5 mil profissionais de tecnologia, e investe 20,5% do seu capital em inovação. “Também criamos o The Hub, em São Paulo, a casa da Ambev onde a gente não impõe a estratégia, mas cocria, juntamente com o varejo, o planejamento que vai desenvolver o nosso negócio”, contou.
Desafios diante de um cenário de crise
Para situar os debates com a atual conjuntura, Guilherme Mercês, economista da ASSERJ, apresentou os cenários econômicos, ressaltando a importância do investimento em tecnologia. “Estamos em um período de crise aguda. O grande desafio para as empresas é fazer um planejamento estratégico que consiga lidar com este ambiente difícil, mas que também consiga olhar para o médio e longo prazo, porque o mundo está passando por um momento de ruptura tecnológica e as empresas que conseguirem sobreviver a esta situação, fazendo a transformação digital, serão as empresas que vão liderar o futuro de um modo geral. E isso é muito válido para os supermercados”, pontuou Guilherme.
Diretor-presidente do Armazém do Grão, Antoane Corrêa, disse que é preciso ouvir as dores do consumidor e buscar tecnologias que possam resolvê-las. “Uma das piores experiências é ter que dividir a fila do mercado com o carrinho de compra. Para isso, temos algumas inovações como o selfie checkout, o papa-filas, ainda pouco usado, e o carrinho inteligente. Introduzir estas inovações é mostrar que nos preocupamos com o cliente”, disse Antoane, que ainda apresentou novidades como o aplicativo Cupom Verde, uma medida sustentável para substituir as notas fiscais de papel.
Aposta no online
Com o objetivo de fidelizar o cliente, a Nestlé também apostou em inovação, criando a Gôndola Infinita. O case foi apresentado pela coordenadora de Digital Trade Marketing B2B Nestlé Brasil, Raissa Miguez, que mostrou como a loja física e o e-commerce podem estar bem integrados para não deixar de atender o cliente. Segundo Raissa, a empresa projeta um crescimento de 80% até 2025 com as vendas online, o que vai representar 16% de todas as vendas da Nestlé no varejo saindo pelo e-commerce e aplicativos.
Bruna Fallani, Head de Marketing da Horus, empresa que produz relatórios extraídos de dados das notas fiscais, afirmou que o data driven representa uma mudança cultural. “O que nós entregamos é um termômetro do que acontece na rede. É preciso interpretar para avaliar o que faz sentido. Data driven nada mais é do que a tomada de decisões baseada em dados”, esclareceu.
Mais um case de sucesso foi apresentado por Fábio Ferreira, diretor executivo da Jeito Caseiro, indústria de panificação congelada. “A panificação sempre foi um desafio para os supermercados. Foi para ajudar a aprimorar esta área que surgiu o conceito de panificação congelada, relativamente novo no Brasil, que oferece serviço especializado, padronização de produto, e uma grande central de produção, sem nenhum conservante”, explicou.
Fechando o dia, Walquyria Majeveski, consultora de varejo da ASSERJ, apresentou um retrato futurista do cliente do mercado moderno, que será ainda mais digital, mais crítico, passa mais tempo em casa, transita por temas complexos e requer atendimento personalizado. “O que este cliente quer?”, indagou.
Multicanais integrados, experiências multissensoriais, robôs, hologramas e gôndolas interativas – associadas aos cinco sentidos – são algumas das novidades que poderão fidelizar o consumidor do futuro, porém, existem alguns desafios estruturais. “Faltam estratégias de longo prazo. É preciso construir marcas fortes, com propósito, participação em causas, que possam gerar experiências, interpretar dados e contar com uma logística eficiente”, concluiu Walquyria.