Indústria de alimentos e bebidas traça estratégia para venda on-line
Varejo físico é principal canal de venda, mas grupos como Mondelez, Pepsico e AmBev querem ampliar a experiência do consumidor no digital
As categorias de alimentos e bebidas, embora ainda tenham o varejo físico como principal canal de venda, têm registrado nos últimos anos crescimento acelerado da participação do e-commerce. As compras on-line de alimentação no último ano somaram R$ 7,29 bilhões, o que representa alta de 16,6% no comparativo a 2022, de acordo com dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), correspondendo a 3,93% das vendas digitais do Brasil.
Esse índice vem crescendo ano a ano após a pandemia. Em 2019, as vendas de alimentos industrializados e bebidas para o consumidor final representavam 2,99%. Para sustentar o crescimento da categoria no pós-pandemia, gigantes da indústria estão investindo para ampliar ainda mais a receita por esse canal.
Além da reposição das despensas, especialistas avaliam que as companhias também podem replicar parte das compras por impulso típicas do varejo físico. O ambiente virtual representa ainda uma oportunidade para apresentar novos produtos do portfólio e entender a jornada de compra dos consumidores.
Na Mondelez International, dona de marcas como Lacta e Tang, as vendas digitais em 2023 corresponderam a 10% do negócio da companhia no Brasil. A expectativa é de que a participação alcance 30% até 2030. Um dos desafios para o canal, segundo a diretora de e-commerce Lívia Seabra, é replicar o comportamento de quem está esperando na fila do caixa e é atraído pela gôndola de chocolates e salgadinhos. “É muito difícil criar impulso dentro do digital e é uma ocasião importante para snacks. Mas podemos trazer uma diferenciação, vender produtos que você não encontra na loja física”, afirma.
A Mondelez criou uma jornada para impulsionar balas e gomas e registrou alta de 16% nos volumes vendidos entre janeiro e junho ante igual período de 2023. Segundo Seabra, a construção da categoria deve ocorrer pela inovação e pelo aumento de frequência de compra. A gigante do mercado de chocolates passou a olhar para o on-line em 2021, quando entendeu que o canal era parte importante da jornada de compra. “Mais de 80% dos consumidores estão buscando informações on-line, e fazem essa compra no on-line ou no offline”, afirma a executiva.
Essa também é a avaliação da PepsiCo. A empresa não revela os dados de faturamento no Brasil, mas afirma que no primeiro semestre do ano registrou crescimento de 11% nas vendas globais do e-commerce em relação ao mesmo período de 2023. “A venda no on-line contribui, cada vez mais, para a venda do offline. De forma estratégica, os canais tornam-se complementares”, afirma Bruno de Oliveira, gerente de e-commerce da PepsiCo Brasil.
De acordo com a dona das marcas Elma Chips e Toddy, o Brasil é a segunda maior operação em vendas de e-commerce na América Latina, com perspectiva de manter a trajetória de crescimento. “Acreditamos que o comércio eletrônico deve expandir mais de 5 vezes em importância, chegando de 5% a 6% de nossos negócios até 2025”, afirma Oliveira. O executivo ressalta que, além dos aplicativos de entrega e dos marketplaces, as plataformas de supermercados também compõem a estratégia para as vendas on-line.
Uma exceção é a fabricante de bebidas Ambev, que lançou o aplicativo próprio Zé Delivery ainda em 2016, antes da pandemia forçar a digitalização do varejo. O aplicativo é descrito como “essencial para a companhia” por Fernando Mazzarolo, vice-presidente do Zé. De acordo com o executivo, uma das tendências notadas pela Ambev é a compra planejada de bebidas. Além do portfólio próprio da Ambev, com marcas como Corona e Guaraná Antártica, o aplicativo atua em parceria com outras indústrias para a venda de salgadinhos, carvão e gelo.
“O Zé é hoje o maior vendedor de cervejas B2C do país, mas há também mais de 100 marcas em categorias como bebidas não alcoólicas, destilados e petiscos. Isso permite que o Zé lance novidades e campanhas de marketing personalizadas para os diferentes perfis de consumidores”, diz Mazzarolo.
Fonte: Valor Econômico