
A gangorra do café: sobe ou desce? Entenda o cenário

Um dos itens mais tradicionais do cotidiano brasileiro, o café tem vivido em uma verdadeira gangorra quando o assunto é preço. Grandes momentos de alta, pequenas retrações... o custo de um dos queridinhos dos consumidores tem sido alvo de muita atenção nos últimos 12 meses.
E diante desse cenário, o movimento oscilatório está em uma nova fase de subida após algumas baixas. Projeções do setor, divulgadas pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), apontam para uma alta de até 15% no custo do produto nos próximos meses. Parte do reajuste já foi aplicado neste mês de setembro, mas novas revisões serão promovidas até outubro.
Pavel Cardoso, presidente da Abic, explica: "De setembro ainda não temos um fechamento, mas o setor todo estava com expectativa desse momento de maio e junho, de novas quedas, desabastecido, curtos de posição de estoque. E esse encurtamento com toda a cadeia, não só as indústrias brasileiras, mas o mundo inteiro, fez com que todos viessem às compras justamente no momento dessa revisão da safra de arábica. E quando o mundo inteiro foi às compras, essas cotações, por conta dessa falta de rendimento no arábica, vieram fortemente para cima, subiram muito rápido. Em agosto, nós tivemos movimentos em 10, 15 dias, de 40% na bolsa".
"Outro fator que eu acho válido considerarmos é que com a entrada do tarifaço, a partir de 6 de agosto, nós tivemos uma quebra no fluxo de abastecimento de todo o mundo. Outros países, notadamente mencionamos Vietnã e Colômbia, aumentaram seus diferenciais de bolsa, exatamente por saberem que o Brasil, como o maior fornecedor dos Estados Unidos, ficaria prejudicado com as tarifas de 50%. E isso ajudou a catapultar as cotações no mês de agosto. A indústria nacional, novamente, segue muito atenta. Mas desabastecida com os estoques, se vê mantendo a responsabilidade que sempre teve com a qualidade e com o suprimento ao supermercados brasileiros, com a necessidade de fazer algum repasse. Já antecipo, porque isso está em curso, entre 10% a 15%, o que deve ser suficiente para recompor a alta da matéria-prima. Parte já foi feito em setembro e outra parte encontra-se em negociação. A partir disso, vai variar de acordo com a política comercial de cada uma das empresas associadas da Abic com o trade supermercadista", concluiu Pavel Cardoso.
Impactos no consumoTodo o contexto enfrentado pelo café tem provocado um evidente impacto no consumo do produto pelos brasileiros. De acordo com dados da Abic, apesar da alta de 10,97% nas vendas de sacas entre julho e agosto deste ano, na comparação do oitavo mês de 2025 frente ao mesmo período em 2024 há queda de 4,23%. No acumulado até o fim do segundo quadrimestre, a baixa é de 5,41%.
O desempenho negativo chama atenção, principalmente quando consideramos o período do inverno, estação tradicionalmente conhecida pelo consumo mais intenso da bebida. Especificamente no recorte do café tradicional e extraforte, responsáveis pela maior parte do consumo no Brasil, a alta é de 48,57% entre agosto de 2024 e o de 2025.
O presidente da Abic aponta que a movimentação de mercado nos últimos meses foi frustrada pela safra de arábica em junho: "Por falta de rendimento na própria colheita, esses cafés não estavam chegando nos armazéns na expectativa de volume esperado, e ali o mercado deu uma virada forte para cima, principalmente em novembro quando vimos essa escalada ser exponencial nos meses que se sucederam. Começou em outubro do ano passado, em novembro teve uma esticada muito forte e em dezembro idem".
Apesar disso, há indícios de um movimento de retomada para o café. O setor projeta alta no consumo para o último quadrimestre deste ano.
Clima: forte influência e incógnita
O aumento constante nos preços do café também é resultado de safras comprometidas por intempéries climáticas, além dos baixos estoques. A indústria cafeeira, apesar disso, projeta uma safra positiva para 2026.
Pavel Cardoso, porém, ressalta que o fator incontrolável da operação, o clima, pode provocar revisões dessas expectativas: "E quando a soma dos dois itens, arábica e robusta, confrontada, já agora em final de julho, contra o ano passado, veio a ser concluído por todo o mercado com uma safra menor, o peso de uma expectativa da safra 2026 se tornou maior. E, em que pese todo o setor esperar efeitos amenos de chuva e de temperatura, como o La Ninã, agora nesse segundo semestre, qualquer alteração na estimativa da safra volta para a expectativa do clima. E por isso, é o sentimento do setor, a volatilidade tremenda que está sendo vivenciada nessas últimas semanas. De modo que alguns chegam a colocar já algum problema nessa superestimada safra de 2026. Então, como o fiel da balança vem para uma variável que ninguém controla, que é o clima, essas volatilidades têm sido muito grandes".
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