‘El Niño’ enfraquece mas continua a influenciar preços nas gôndolas

Plantação de fazenda
Fenômeno climático enfraquece em março, mas continuará influenciando preços no campo e nas gôndolas dos supermercados

A Organização Meteorológica Mundial (OMM), atualizou o balanço do ‘El Niño’, fenômeno climático responsável pelo aumento das temperaturas nas águas do Oceano Pacífico Tropical, nesta terça-feira, 5. Após catalogar o fenômeno de 2023-24 como um dos mais rigorosos já registrados, a intensidade do evento está diminuindo gradativamente.

Na nova atualização, os efeitos ainda continuarão sendo sentidos até meados de maio, mas a diminuição da intensidade do ‘El Niño‘ é o indicativo de um outro fenômeno conhecido, o ‘La Niña’, evento climático que realiza a operação inversa ao atual.

Segundo a OMM, há uma probabilidade de 60% de que os efeitos do ‘El Niño’ permaneçam nos próximos dois meses e quase 80% de condições neutras entre abril e junho, período de hiato entre o ‘El Niño’ e o ‘La Niña’. A organização ainda reforça que a previsão consta como incerta.

Impacto no agro e reação nos supermercados

Para o Coordenador de Índices de Preços da Fundação Getúlio Vargas (IBRE FGV), André Braz, o ‘El Niño’ será um dos principais componentes da inflação em 2024, principalmente, por ditar as safras no campo e a reação que os supermercados e o varejo alimentar poderão ter.

Consumidor avalia legumes

Consumidor avalia legumes

“Pode haver um atraso de algumas safras importantes como milho e soja, e isso vai fazer com que esses grãos subam de preço. Esse aumento vai contaminar toda a família de produtos derivados, inclusive as carnes”, avalia. O professor ainda pede atenção para a piora acontecer depois de uma desaceleração dos preços dos alimentos, em 2023.

André levanta a ideia de que os alimentos vão pesar no bolso das famílias, e serão os brasileiros com menos condições quem sentirão os impactos primeiro. “Eu acho que se a gente observar, por exemplo, o quanto os alimentos subiram de janeiro de 2020 até novembro de 2023, isso dá um número em torno de 45% de alta só para alimentos no domicílio. Agora, se a gente acumular, a inflação dá algo em torno de 25%. Então dá para ver que a alimentação subiu 20 pontos percentuais a mais do que a inflação média”, explica.

Seguindo na mesma linha, o Coordenador do curso de Ciências Econômicas do Senac Ead, Marcelo Cerqueira, explica que o grupo de alimentos e bebidas do índice de inflação já é a maior alta do mês de janeiro desde 2016, “esse cenário de aumento de preços é justificado por fatores climáticos, onde diversas regiões produtoras do Brasil têm convivido com temperaturas elevadas e chuvas mais intensas prejudicando o resultado das colheitas”, afirmou.

Para Cerqueira, o caminho dos supermercadistas será manter a política de preços atual e sem alterações que impactem de maneira abrupta o bolso do consumidor. Ele ainda ressalta um cuidado dos mercados em relação a Páscoa, que já conta com um aumento considerável no bacalhau, especiaria tradicionalmente consumida pelos brasileiros de fé católica.

“O varejo supermercadista deve continuar mantendo aquilo que vem dando certo, como as promoções. Temos observado que a cada ano que passa, os brasileiros estão mais cautelosos com suas finanças e cada oportunidade de gastar menos é valorizada ao máximo. Portanto, oferta de promoções, descontos e temporadas de vendas com preços mais baixos se tornam um diferencial diante da concorrência para o cumprimento dos objetivos estabelecidos no início do ano”, completa.

Por Publicado em: 6 de março de 20240 Comentários