Dólar pesa e itens da cesta básica deverão subir em 2024

Supermercados precisarão pensar em novas estratégias para não aumentarem os preços dos produtos da cesta básica.

Segundo o Índice de Commodities do Banco Central (IC-Br), os preços das matérias-primas (agrícolas, energia e mineirais) caíram para o menor patamar nos últimos dois anos, devido a retração das commodities no setor do agro. Isso representa um crescente perigo para alguns itens básicos que completam a cesta básica de alimentos dos brasileiros, que já possui expectativa de encarecimento em 2024.

Em dezembro de 2023, os últimos números apresentados do índice registravam 342,77 pontos pouco acima dos 340,69 de 2021. O assessor especial do Ministério da Agricultura, Ernesto Augustin, para o jornal ‘O Globo’ afirmou que “a rentabilidade está muito baixa, porque os preços dos insumos permanecem elevados”, e apontou que a expectativa é de queda nesses valores para os próximos meses.

Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Universidade de São Paulo (USP), o preço da soja, principal commoditie agrícola da exportação brasileira recuou em 23,6% em janeiro, comparado ao mesmo valor de janeiro de 2023. O milho e o café também apresentaram quedas acentuadas, em 20,4% e 13,3 %, respectivamente.

“O índice de inflação geral em 2023 foi limitado pela queda nos preços dos alimentos e bebidas vendidos nos supermercados do Rio e do Brasil. Esse fenômeno acompanhou a safra recorde colhida pelo agronegócio brasileiro, que derrubou os preços dos produtos in natura e dos industrializados”, afirmou William Figueiredo, consultor da Asserj.

Para a confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), cadeias de produtos como café, carne bovina, milho, soja, algodão, tiveram uma redução de 30% nos preços reais em 2023. Os números de queda entram em contraste com o crescimento de 15% do PIB agropecuário do país em 2023.

“Deve ter uma queda de 0,8% no volume de produção este ano, em função de fatores climáticos, com quebras de safras em várias cadeias de produtos. No agronegócio, que é mais amplo que a agropecuária, podemos cair 2% ou ficar estagnados, no melhor cenário”, analisou Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA.

Cesta básica

Em um levantamento da empresa de inteligência de mercado Horus com a Fundação Getúlio Vargas, o Rio de Janeiro teve, em dezembro de 2023, a cesta básica mais cara do Brasil. Avaliada em R$ 946,00, são cerca de 8% de aumento em comparação com janeiro de 2023, quando fechou em R$ 874,00.

Segundo a análise da FGV, dos 18 produtos da cesta básica, o arroz foi um dos mais impactados, com uma alta de 2,9% pelo quarto mês consecutivo. Ainda assim, a população sentiu mais o preço nos legumes com aumento de 10,2%, e nas frutas, com de 7,2%. Itens como banana, vendida em média a R$ 12 reais o quilo, e a batata inglesa, que praticamente dobrou de preço, chegando a R$ 10,98 o quilo, pioram a complexidade do cenário.

O aumento do valor final da cesta básica é um reflexo direto da inflação, o índice do mês de dezembro, medido pelo IBGE, divulgado em janeiro, apontou que o IPCA, ficou em 0,65% no Rio, acima dos 0,56% da média nacional.

Para o presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro, Fábio Queiroz, o cenário da cesta básica no estado requer uma cautela com o bolso do consumidor, “A posição dos supermercadistas é de tentar encontrar o melhor preço nas prateleiras, e por isso, nenhum preço será decidido sem antes estudarmos os fatores externos. Por hora, manteremos as expectativas, e vamos esperando por algumas melhoras no cenário”.

Soja deve disparar

O baixo crescimento econômico da China e a crise sem fim na Argentina atingirão em cheio produtos importantes da cesta básica brasileira. Em uma avaliação da Empiricus Research, o Federal Reserve, considerado o Banco Central dos Estados Unidos, enxerga uma expectativa dos números de consumo nos Estados Unidos de janeiro e fevereiro de 2024 com um corte nos juros em março.

A expectativa da queda dos juros entre março e maio de 2024, reflete na projeção do dólar abaixo dos R$ 5,00, o que significaria uma estabilidade na inflação brasileira e o indicativo de mais um corte de juros do Banco Central do Brasil, o terceiro desde setembro de 2023. “No último trimestre de 2023, a inflação voltou com força no varejo de supermercado, puxando os índices de inflação”, afirma William Ferreira.

Juntamente com o arroz e o feijão, a soja deverá ser novamente influenciada pelo dólar, além de outros fatores como a baixa procura do mercado chinês, principal consumidor da commoditie brasileira e a crise na Argentina, que também diminuiu a procura do item no mercado nacional.

Segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o Mato-Grosso, um dos principais produtores de soja no Brasil, estima a pior safra nos últimos 15 anos, com uma queda de 13,9% na safra inicial de 2024. A expectativa é de alta no preço do óleo de soja e seus derivados.

“2024 não deverá repetir o resultado de queda nos preços dos alimentos, tendo em vista a menor safra esperada e aumentos acima da inflação já enunciados em insumos bases, como mão de obra e energia elétrica. O carrinho de compras deve ficar mais caro esse ano. Mais do que nunca, importante o consumidor pesquisar preços e estar atento às ofertas anunciadas”, completou William Ferreira.

Por Publicado em: 26 de janeiro de 20240 Comentários