Dia da Consciência Negra: conheça a trajetória de Silas Madriaga no varejo supermercadista – um dos mais democráticos setores do mercado de trabalho
No Dia da Consciência Negra, celebrado hoje, refletimos sobre a importância da luta contra o racismo e pela valorização da cultura afro-brasileira.
No Brasil, os supermercados vêm desempenhando, cada vez mais, um papel importante na inclusão social e econômica, especialmente no que diz respeito ao aumento da presença de negros no mercado de trabalho. Como ambientes de grande circulação e variedade de funções, eles se tornaram um dos setores mais democráticos, que oferecem uma ampla gama de oportunidades. Entretanto, apesar das barreiras históricas, os supermercados são também locais onde a luta contra o racismo e pela valorização da diversidade tem ganhado força, especialmente quando se observam os avanços no acesso a cargos de liderança por profissionais negros.
A data, que marca a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra no Brasil, é um momento perfeito para conhecer e se inspirar com histórias de pessoas que desafiaram o preconceito e conquistaram seu espaço. Assim, a ASSERJ apresenta a trajetória de Silas de Assis Madriaga.
Morador de Nova Iguaçu, há 35 anos no varejo de supermercado, Silas é gerente do Grupo Adonai Supermercados, onde se orgulha de ver mais negros ocupando cargos de liderança – uma vitória de todos.
O começo: Supermercado Novo Mundo e o enfrentamento ao preconceito
A trajetória de Silas no varejo começou em 1989, no extinto supermercado Novo Mundo. Primeiro emprego, animado com a oportunidade, não deixou de receber olhares de desconfiança. Ele lembra com clareza da sensação de ser tratado de forma diferente, algo que mais tarde identificaria como preconceito.
“Eu era jovem, estava começando, e logo percebi que minha cor de pele parecia ser um obstáculo. Era nítido o olhar das pessoas, o distanciamento, a falta de confiança. Mas eu não desisti, e fui escrevendo minha história”, relata.
Iniciando como repositor, ele rapidamente evoluiu, sendo promovido a líder de varejo em um balcão de vendas a granel, que era um verdadeiro “Maracanã” de comercialização de produtos como arroz, feijão, farinha e açúcar. Com o tempo, assumiu o cargo de encarregado de mercearia. Contudo, a dificuldade em crescer no setor de varejo se intensificava pela cor da sua pele. A discriminação era algo constante, mas Silas não se deixou abater.
“Era difícil. Eu dividia opiniões, principalmente por conta da minha cor. Mas a resistência foi minha maior aliada, e continuei a crescer, sempre com a certeza de que meu potencial não estava atrelado à cor da minha pele”, afirma Silas, com a sabedoria que a experiência traz.
Após o Novo Mundo, Silas teve passagens importantes por outros supermercados, como o Mercado Rio, Guanabara e Farinha Pura, até chegar ao Intercontinental, onde passou 10 anos. Porém, a luta contra o preconceito persistia. Como encarregado de mercearia, ele sabia que tinha o potencial para subir, mas a promoção nunca vinha. Por mais que se destacasse, sua pele negra parecia ser um obstáculo.
Foi então que, em um momento de virada, um gerente de sua confiança o convidou para trabalhar no Barra Oeste (Supermarket), um desafio que, com muito esforço, Silas superou. Lá, foi promovido a subgerente, cargo que ocupou por três anos, até que, finalmente, teve seu talento reconhecido.
Reconhecimento e o novo horizonte no Adonai
Hoje, Silas é gerente na rede Adonai Supermercados, onde trabalha há três anos e meio. A empresa, para ele, é um exemplo do que acredita ser possível: um lugar onde a luta contra o preconceito é real, e onde os negros ocupam posições de liderança.
“Eu vim de uma realidade em que, como negro, não podia ser subgerente. Mas hoje, vejo que o Adonai está no caminho certo, com muitos líderes negros ocupando cargos importantes. Isso me enche de orgulho, porque sei o quanto isso é significativo para a nossa comunidade”, afirma.
A caminhada de Silas é um reflexo das dificuldades que muitos trabalhadores negros enfrentam diariamente em diversos setores. Mas sua história também é um símbolo de resistência, perseverança e, acima de tudo, de esperança. Ele conquistou seu espaço com muito esforço, mas também com a ajuda daqueles que o reconheceram pelo que ele realmente é: um profissional competente, dedicado e capaz de transformar realidades.
Para os jovens que enfrentam os mesmos desafios que ele enfrentou, Silas deixa um conselho claro: “Lutem com força e coragem, porque a glória virá. Não deixem que nada e nem ninguém os faça acreditar que vocês não são capazes. A luta é dura, mas é por ela que conseguimos alcançar nossos objetivos.”