Crise no café leva à preocupação de fraudes: saiba como evitar
Previsão é de preços altos nos próximos meses
Maior produtor mundial de café, o Brasil enfrenta uma tempestade que mistura escassez global, alta de preços e riscos crescentes de fraudes. O impacto já é sentido no mercado varejista e pode se intensificar em 2025, tornando o café, item indispensável para milhões de brasileiros, cada vez mais caro.
A combinação de secas prolongadas no Brasil, problemas climáticos em outros países produtores e a desvalorização do real tem pressionado a indústria cafeeira de forma inédita. Enquanto o consumidor final ainda é parcialmente protegido por esforços da indústria e supermercados, especialistas alertam que o repasse de custos é inevitável nos próximos meses.
Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o café moído acumulou alta de 33% nos 12 meses até novembro. Nos supermercados, o pacote de 1 kg, que custava R$ 35,09 em janeiro, agora é vendido por R$ 48,57, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
Diretor executivo da Abic, Celírio Inácio decreta: a indústria cafeeira está enfrentando desafios significativos não vistos há 48 anos. “É uma realidade que não há solução em curto e médio prazo.”
“Marcas fraudadas tendem a crescer”
Há ainda outro agravante, que é o do aumento das marcas de café adulterado, colocando em risco a saúde dos consumidores e a reputação dos varejistas, lembra Mario Panhotta, diretor da Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé). Ela reúne mais de 20 mil cooperados, sendo mais de 97% deles pequenos produtores que vivem da agricultura familiar, espalhados por mais de 330 municípios no Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Matas de Minas e Vale do Rio Pardo (no estado de São Paulo).
“Vale o varejo ficar muito atento nesse momento de crise, pois as marcas fraudadas tendem a crescer, trazendo sérios riscos para os varejistas e consumidores. Temos uma fiscalização e legislação mais atuante e já estamos tendo surpresas desagradáveis nesse sentido”, ele atenta.
Ele destaca ainda ser crucial estar atento à origem e qualidade dos produtos, verificando a procedência do café, exigindo dos fornecedores a documentação que comprove a origem e a qualidade do grão; desconfiar de ofertas muito abaixo do mercado, pois podem indicar adulteração, conhecer as marcas que comercializa, pesquisar a reputação dos fabricantes e a qualidade de seus produtos e informar sobre os riscos do café fraudado e a importância de consumir produtos de procedência confiável.
“Praticamente inevitável o repasse de preços ao varejo”
A pressão sobre a indústria é cada vez maior. Segundo Panhotta, o repasse de custos ao consumidor é praticamente inevitável. “A reposição de estoques está cada vez mais cara, e os preços devem sofrer reajustes mensais pelos próximos seis meses”, prevê.
Outro fator complicador é a concorrência global. Com a escassez, indústrias internacionais estão disputando o mesmo café destinado ao mercado brasileiro, o que pode agravar ainda mais o desequilíbrio entre oferta e demanda.
“Estamos caminhando para a quinta safra consecutiva com déficits de produção no Brasil e, nos últimos dois anos, também no Vietnã, que é o principal produtor da variedade Robusta. Além disso, é importante destacar que os problemas logísticos globais, que se intensificaram durante a pandemia, ainda não foram totalmente resolvidos. Isso tem gerado altos custos e trazido insegurança em relação ao abastecimento no cenário do café”, detalha Panhotta.
“Preços devem sofrer reajustes mensalmente”
Celírio Inácio também prevê um cenário desfavorável: “O industrial que sempre trabalhou com a média de preço dos seus estoques conseguia reposições de valores, que o possibilitava ter previsibilidade de custos futuros e, assim, manter a sua competitividade comercial oferecida ao varejo. No entanto, hoje, as suas recompras estão cada vez mais altas encarecendo a oferta ao varejo. Os preços, a partir de agora, devem sofrer reajustes mensalmente, pelo menos pelos próximos seis meses.”
A torcida agora, concordam os especialistas, é por chuvas adequadas entre janeiro e março de 2025, período crucial para o desenvolvimento do grão. Condições climáticas favoráveis no Brasil e em outros países produtores são fundamentais para uma safra 2025 exitosa.
“Todos os fundamentos possíveis de análises hoje indicam um aumento ou estabilidade do preço do café. Se não houver nenhum fator novo, a melhor hipótese é uma acomodação de preço expurgando o excesso que fomos acometidos nos últimos 10 dias”, conclui Celírio Inácio.
Sendo assim, é fundamental que os compradores tenham atenção redobrada neste momento, para garantir a qualidade das compras que estão realizando, assim como as negociações mais favoráveis possíveis para a saúde financeira do seu negócio.