Chuvas no RS: fornecedores anunciam suspensão na entrega de alimentos
Supermercados do Estado do Rio de Janeiro garantem normalidade no abastecimento
O Rio Grande do Sul está vivendo um completo drama desde a semana passada, enquanto atravessa uma das suas maiores crises climáticas da história. Chuvas em proporções gigantescas assolam grande parte do estado, mantêm cidades alagadas e afetam diretamente o campo. Até o fechamento desta matéria, 83 pessoas morreram devido a esses acontecimentos e outras 111 estão desaparecidas.
O reflexo do dano causado pelas chuvas no Rio Grande do Sul ligou o alerta para os supermercados do Rio de Janeiro. Diversas redes foram informadas na noite de quinta-feira (2), que o fornecimento de arroz será interrompido por “não existir condições de levar a carga do sul para o Rio”, informou um fornecedor que preferiu não ser identificado.
Ele representa uma das grandes empresas do setor, e afirmou que “a situação é muito complicada, a perda vai ser enorme para as lavouras de arroz, e será um período extremamente complicado para a mercadoria. Não tem como fazer a entrega devido aos bloqueios das estradas. Não tem como sair da fazenda e chegar na indústria, está bem complicado“, completou.
Segundo dados da Emater (Empresa de Assistência técnica e expansão rural), até a quinta-feira passada, o Rio Grande do Sul havia colhido 66% das áreas de soja e 82% das de milho e, de acordo com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), 78,76% da área de produção do arroz no estado também havia sido colhida. Diante dessa situação, um outro fornecedor de arroz confirmou que alguns produtores, temendo o prejuízo, autorizaram o aumento do preço do grão, “Com essa perda, os produtores ficaram inseguros e aproveitaram para subir o preço do arroz”, afirmou.
Para William Figueiredo, consultor econômico da ASSERJ, o reflexo no preço do arroz, da soja e do milho só serão afetados em caso de dano ao abastecimento, “Os supermercados possuem estoques, assim como os atacadistas e as indústrias. Além disso, grande parte da safra já estava colhida, ao final de abril, o que deve diminuir as perdas para os produtores, gerando menor risco de impacto nos preços”, afirmou.
Segundo dados levantados pela Future Tank a pedido da ASSERJ, o arroz e o feijão já apresentavam alta de 25% no acumulado dos últimos 12 meses. Por outro lado, o óleo de soja e o milho em conserva tiveram acúmulo de quedas no mesmo período de -23% e -7%, respectivamente.
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Visando tranquilizar os supermercadistas do Rio, um outro fornecedor, que pediu anonimato, informou que “a indústria tem estoque, e que não há motivos para se preocupar com abastecimento, até porque, a exportação não foi boa, e o problema não é a produção, mas sim a entrega”, e enfatizou o alerta para “vamos aguardar” o desenrolar dos acontecimentos.
Supermercados do Rio de Janeiro não temem desabastecimento
Os fornecedores de arroz do Rio Grande do Sul prontamente avisaram aos supermercadistas do Rio de Janeiro sobre o cenário que se desenhou nas últimas horas, e que deverá seguir pelos próximos dias. Leonardo Vellozo, Comprador de comoddities do Supermercados Serra Azul, afirmou que existia “a expectativa de recebermos entregas esta semana, mas tivemos a ligação de alguns dos fornecedores avisando que vão atrasar a entrega pelos problemas nas estradas”. O executivo ainda detalhou que algumas empresas sequer conseguiram comunicar oficialmente a demora, “eles estão sem luz, sem internet, a situação está muito tensa”, completou.
Descendo a serra, a situação chegou em um efeito dominó. Desde os fornecedores mais conhecidos até os que buscam penetração no mercado fluminense, tentam comunicar ao setor supermercadista que as entregas estão suspensas, “No momento, eles não têm prazo para entrega. A situação pode mudar, mas até amanhã, está tudo muito incerto”, revelou Jomar Almeida, diretor do Supermarket Torre. Na visão do gestor, o aviso dado pelos fornecedores permitirá que os supermercados monitorem a situação com mais calma, avaliando suas estratégias, “Procuramos outros fornecedores que estão fora da região afetada e também aqueles que utilizam outros meios de transporte, mas nada fora do normal”, explicou.
A Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro se manifestou afirmando que a situação não é alarmante, e enfatizou que não há nenhum risco para afetar o abastecimento no Rio de Janeiro. “Mesmo que a situação seja delicada no sul, devemos estar atentos mas sem precisar fomentar o desespero. É importante vigiar a situação e garantir que o arroz esteja presente nas gôndolas, e torcer por dias melhores para os nossos irmãos gaúchos”, comentou Fábio Queiróz, presidente da ASSERJ.
As lojas do Rio de Janeiro não apresentaram nenhuma mudança em seu fornecimento dos itens afetados pelas chuvas, em média, algumas redes de supermercados estimam estoque para 4 meses. “O abastecimento nas lojas está normal, temos estoque e está tranquilo. Estamos aguardando o contato das demais empresas para vermos a melhor forma de seguir e evitar especulações”, explicou Adenilson Vidal, Diretor Comercial dos Supermercados Unidos, que enfatizou a necessidade de esperar o posicionamento oficial dos representantes das indústrias de alimentos do Rio Grande do Sul na tomada de decisões no Rio de Janeiro.
O consultor econômico da ASSERJ, William Figueiredo, pontuou que, por hora, “monitorar o cenário, junto aos fornecedores, e o consumo nas lojas. Utilizar de seus estoques, aguardando as águas baixarem no estado do Rio Grande do Sul e as cadeias logísticas se estabilizarem”, será a melhor opção para o setor e assegurou que os consumidores não precisam se preocupar no momento.
O que diz a indústria
Procurada, um dos maiores fornecedores de arroz e grãos do mercado, a Combrasil, afirmou que “o cenário ainda é incerto, e é importante ressaltar que a situação não é de desabastecimento iminente, já que há reserva para seis meses de fornecimento”, e assegurou que mantém a produção normal em outros estados como Santa Catarina e Tocantins.
“Entendemos que a incerteza gerada por eventos climáticos como este pode ser preocupante, mas queremos assegurar aos nossos clientes que estamos dedicados a garantir o fornecimento contínuo de arroz de qualidade. Queremos expressar nossa solidariedade às regiões afetadas”, diz a nota.
Outros fornecedores foram procurados, mas não responderam a reportagem. O espaço ficará aberto.
Reveja o caso
A atual condição tomou forma em 26 de abril, quando o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), ligado ao governo federal, emitiu um alerta de tempestades para o RS, a situação foi se agravando com o passar dos dias.
A crise se alastrou por grande parte dos pampas gaúchos e provocou cenários de inundações completas em plantações de arroz, soja e milho. O Instituto do Agronegócio não estimou o tamanho do prejuízo, mas classificou que, pelos indícios, será de considerável.
“As chuvas torrenciais no Rio Grande do Sul já vêm causando inúmeros transtornos e prejuízos (…) perdas nas áreas de soja, milho e arroz e outras culturas, mas também transtornos no meio urbano, já que muitas estradas estão bloqueadas”, disse o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antônio dos Santos, em boletim oficial.