Brasil registra deflação pela primeira vez em 2023

Divulgado pelo IBGE, IPCA de junho teve queda de 0,08%, puxada por alimentos mais baratos

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador da inflação oficial no Brasil, apresentou deflação em junho, com queda de 0,08%, na comparação com maio. A informação foi divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (11). Foi o primeiro índice negativo de inflação mensal desde setembro de 2022.

Esses dados foram analisados pelo consultor econômico William Figueiredo, da Future Tank, em parceria com a Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (ASSERJ). “A inflação no Brasil já vinha desacelerando há quatro meses, basta observar os resultados de maio, abril, março e fevereiro, com altas, respectivamente, de 0,23%, 0,61%, 0,71% e 0,84%. Sinalizando, portanto, uma trajetória consistente de queda, como efeito da elevada taxa básica de juros (Selic), há 12 meses congelada em 13,75% ao ano”, explicou William, acrescentando que junho do ano passado, ao contrário do último mês, registrou inflação de 0,67%.

A deflação em junho deste ano foi verificada em quatro dos nove grupos pesquisados, com maior contribuição do setor de supermercados por conta da forte queda nos preços da alimentação no domicílio: -1,1%. Destaque para óleo de soja (-9,0%), frutas (-3,4%), leite longa vida (-2,7%) e carnes (-2,1%). Esses produtos não registram aumento de preços há dois meses – em maio, mantiveram-se estáveis, na comparação com abril.

Entre os itens vendidos em supermercados, produtos de limpeza e artigos de higiene pessoal apresentaram inflação no mês passado, ficando, respectivamente, 0,4% e 0,2% mais caros. Sabão em pó (+0,8%) e desodorante (+0,3%) puxaram a alta nos preços em suas categorias.

No acumulado do primeiro semestre, a pequena variação de preços da alimentação no domicílio (+0,2%) contribuiu para desacelerar a inflação no país. Apesar disso, a inflação brasileira acumulada em seis meses (+2,9%) já se aproxima da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para todo o ano de 2023 (+3,25%).

De acordo com a pesquisa Focus do Banco Central do Brasil (Bacen), a atual aposta do mercado financeiro é que o IPCA Brasil encerre 2023 acima da meta (+4,95%) e do teto do intervalo de tolerância (+4,75%) pelo terceiro ano seguido. “Cabe destacar que, como o resultado da inflação de junho (-0,08%) veio abaixo das expectativas (-0,07%), essa projeção deve ser revisada para baixo nas próximas semanas”, disse William.

Diante do cenário de provável estouro da inflação este ano, o Bacen já direciona seus esforços de política monetária para a meta da inflação de 2024, com taxa de 3,0%. O mercado financeiro projeta que o IPCA Brasil vai terminar o próximo ano em 3,92%, abaixo do teto do intervalo de tolerância, de 4,5%.

“Previsão de inflação dentro da meta para 2024, ainda que na margem de tolerância, implica em perspectiva de taxa de juros elevadas por menos tempo, desonerando, assim, a produção, os investimentos e, por conseguinte, a geração de emprego e renda no país. A expectativa atual é que a Selic comece a diminuir a partir da próxima reunião do Bacen, em agosto. Deve encerrar 2023 (12,0%) novamente na casa de dois dígitos, mas abaixo desse patamar já em 2024 (9,5%)”, analisou o economista.

Deflação maior que a média nacional no Rio

O Rio de Janeiro também registrou deflação em junho. A queda foi ainda maior que a média nacional: -0,20%. Foi o segundo mês de resultados no estado menores que no país. Em maior, o Rio registrou alta de 0,08%, contra avanço de 0,23% no Brasil.

Esse recuo no índice geral de preços fluminenses foi observado em cinco dos nove grupos pesquisados. Assim como no cenário nacional, houve grande contribuição do setor de supermercados por conta da forte queda nos preços da alimentação no domicílio, que ficou 0,8% mais barata. Destaque para óleo de soja (-32%), frango (-9,7%), carnes (-7,0%) – com queda de preços em todos os cortes – e frutas (-2,5%). Esse foi o segundo mês seguido de deflação na alimentação no domicílio fluminense – em maio, o alívio no bolso dos consumidores foi de 0,4%.

Entre os produtos vendidos em supermercados, produtos de limpeza e artigos de higiene pessoal registraram inflação em junho no Rio, de 0,7% e 0,2% respectivamente. Amaciante (+1,6%) e produto para cabelo (+0,2%) puxaram a alta nos preços nos seus segmentos.

No acumulado do primeiro semestre, a inflação no Rio, de 2,5%, ficou abaixo da média nacional, de 2,9%. Destaque para a deflação acumulada nos supermercados fluminenses, tanto em alimentação no domicílio (-0,6%) quanto em produtos de limpeza (-0,1%). Já artigos de higiene pessoal registraram forte alta nos preços, de 5,2%, puxada por produto para cabelo, desodorante, sabonete, produtos de higiene bucal, fralda e absorvente íntimo. Todos com preços maiores em pelo menos 5%, na comparação com dezembro do ano passado.

Por Publicado em: 13 de julho de 20230 Comentários