Análise do setor supermercadista no Rio de Janeiro e no Brasil

Confira os últimos indicadores de desempenho do segmento em níveis estadual e nacional

O IPCA, índice de inflação oficial no Brasil, medido pelo IBGE, voltou a acelerar em fevereiro (+0,84%), ante janeiro (+0,53%). Trata-se da maior variação mensal desde abril do ano passado (+1,06%). A inflação no Brasil foi puxada pelos grupos Educação (+6,3%), Saúde e cuidados pessoais (+1,3%) e Habitação (+0,82%), influenciados principalmente pelos aumentos de preços em fevereiro das mensalidades escolares, dos perfumes e da energia elétrica, respectivamente.

Por outro lado, o subgrupo Alimentação em domicílio, ou seja, alimentos e bebidas vendidos nos supermercados brasileiros, observou estabilidade de preços em fevereiro (+0,0%), o que contribuiu para conter a alta da inflação no mês. A consultoria LCA, por sua vez, projeta inflação de alimentação no domicílio ao final do ano de apenas (+1,1%), apostando na queda de preço das commodities agrícolas, carnes e ovos.

Independente do movimento, de aceleração, estabilidade ou desaceleração, cabe registrar que oito dos nove grupos pesquisados pelo IPCA registraram inflação em fevereiro, à exceção de vestuário (-0,3%), o que representa um cenário de inflação disseminada pela economia brasileira.

No Rio de Janeiro, o resultado não foi diferente: aceleração da inflação geral em fevereiro (+0,65%), ante janeiro (+0,43%). E, como na média brasileira, maior inflação desde abril do ano passado (+1,39%). Impulsionou a inflação fluminense em fevereiro o grupo Transportes, diante do aumento das tarifas do trem, na região metropolitana, e dos ônibus e taxi, na capital.

O subgrupo Alimentação no Domicílio, por sua vez, registrou deflação no Rio de Janeiro em fevereiro (-0,3%). Ou seja, na média, os produtos vendidos nos supermercados fluminenses diminuíram de preços no último mês. Foi a primeira queda de preços desde setembro do ano passado (-0,7%). A pesquisa de Cesta Básica do Dieese, divulgada ontem, já havia sinalizado uma significativa queda nos preços do conjunto de produtos básicos da alimentação dos fluminenses (-3,1%).

Os itens que diminuíram de preços nos supermercados do Rio em fevereiro, segundo o IPCA, foram: Legumes (-7,6%), Carnes (-2,9%), Aves e ovos (-2,6%), Sal e condimentos (-2,2%) e Óleos e gorduras (-0,4%). Destaque para os subitens: cebola, batata e tomate, alcatra e filé-mignon, frango em pedaços, alho e sal, e óleo de soja, respectivamente. Por outro lado, registraram elevada inflação nos supermercados do Rio em fevereiro, os itens: Verduras (+9.1%), Frutas (+5,0%) e Leite e derivados (+1,0%); e os subitens: cenoura (+25,6%) e ovo de galinha (+3.1%).

Além desse último conjunto de alimentos, foram vilões da inflação nos supermercados fluminenses no mês passado os itens Produtos de limpeza (+1,3%) e de Higiene Pessoal (+2,3%). Registraram alta de preços, os subitens: sabão em pó, sabão em barra e papel toalha, e fralda e sabonete, respectivamente.

Apesar da alta inflação acumulada em apenas 2 meses no Rio (+1,1%), esse indicador geral bem como os de produtos vendidos em supermercados – Alimentação em domicílio (+0,2%), Produtos de limpeza (+0,8%) e Higiene pessoal (+2.0%) – estão todos abaixo do observado no início do ano passado. Sinal de que teremos mais um ano de inflação elevada, porém em menor patamar. Um alívio para o bolso dos consumidores fluminenses.

Dentre os produtos vendidos nos supermercados fluminenses, cabe destacar o top 5 das maiores altas de preços no ano: cenoura (+63%), abacaxi (+32%), brócolis (+29%), couve-flor (+27%) e batata-doce (+26%) – todos produtos hortifruti. Na outra ponta, os 5 que tiveram baixa nos preços no ano: cebola (-40%), limão (-35%), frango em pedaços (-7,3%), alcatra (-6,2%) e alho (-5,6%).

Da mesma forma, o top 5 da inflação nos supermercados fluminenses no acumulado em 12 meses: maçã (+61%), farinha de mandioca (+44%), cebola (+43%), mamão (+41%) e sabão em pó (+32%). Na outra ponta, o bottom 5 do acumulado em 12 meses: limão (-29%), cenoura (-20%), filé-mignon (-9,2%), óleo de soja (-7,6%) e acém (-7,5%).

Como a inflação geral no Brasil acelerou em fevereiro e veio acima das expectativas do mercado, isso deve provocar uma revisão para cima das projeções de inflação de 2023. A atual perspectiva do mercado financeiro é que o IPCA Brasil encerre 2023 (+5,9%) novamente acima da meta do Banco Central (+3,25%) e do teto de tolerância (+4,75%).

Previsão de inflação acima da meta do Banco Central se reflete em perspectiva de taxa de juros elevadas por mais tempo, onerando a produção, os investimentos e, por conseguinte, a geração de emprego e renda no país. A perspectiva atual é que a taxa de juros básica, a SELIC, encerre 2023 (+12,75%) novamente na casa de dois dígitos, assim como em 2022 (+13,75%). Nesse cenário, trajetória de queda da SELIC em 2023 prevista para se iniciar apenas no 4º trimestre.

Cesta Básica

Após quatro meses de alta, o preço da cesta básica caiu na capital fluminense em fevereiro (-3,1%), na comparação com janeiro. Resultado semelhante foi observado na média nacional (-1,5%), ainda que em menor escala. O primeiro sinal de alívio para o bolso da parcela mais carente da população, que gasta maior parte de sua renda no consumo de alimentos.

A deflação de preços em fevereiro foi observada em 13 das 17 capitais pesquisadas pelo Dieese. O resultado fluminense foi o segundo melhor no país. A maior queda de preços foi observada em Belo Horizonte/MG (-4.0%), enquanto a maior alta em Belém/PA (+1,2%).

Com isso, a cesta básica fluminense voltou a ser a terceira mais cara do Brasil (R$ 745,96), agora mais barata que a de São Paulo/SP (R$ 779,38) e, novamente, que a de Florianópolis/SC (R$ 746,95). Entre abril e dezembro do ano passado, o Rio ocupou a quarta posição nacional, atrás também de Porto Alegre/RS (R$ 741,30).

O resultado de fevereiro anulou a inflação observada em janeiro, provocando uma queda no preço da cesta básica no acumulado do 1º bimestre no Rio (-0,9%). Em nível nacional, ao contrário, o valor do conjunto dos alimentos básicos continua acumulando alta nesse início de ano (+0,5%).

Com resultados bastantes distintos entre os dois primeiros meses do ano, recomendado aguardar a divulgação dos dados da inflação geral, prevista para a próxima semana, e o resultado do próximo mês da cesta básica, para melhor compreender a trajetória dos preços dos alimentos ao consumidor em 2023.

No conjunto de produtos básicos da alimentação dos fluminenses, diminuíram de preço em fevereiro:
– a batata, pela maior oferta
– o óleo de soja, pela menor demanda diante da alta dos preços, essa, por sua vez, provocada pela maior exportação do produto
– o tomate, pela maior oferta, provocada pela colheita da safra de verão
– o café em pó, acompanhando a queda no preço internacional e nas exportações
Por outro lado, aumentaram de preço em fevereiro no Rio:
– o pão francês, pelo encarecimento do trigo importado
– o feijão, puxado pelo aumento do preço do grão importado
– o arroz agulhinha, diante das incertezas em relação ao volume da safra e maior exportação
o leite integral e a manteiga, pela menor oferta de leite no campo e aumento das importações de lácteos

Análise feita pela Future Tank para a Asserj

Por Publicado em: 5 de abril de 20230 Comentários