Eleições EUA: por que o varejo brasileiro está tão apreensivo?
Valorização do dólar, balança comercial, juros brasileiros, são alguns dos fatores que sofrerão forte influência na decisão eleitoral de 2024
O presidente Joe Biden (Democratas) e o ex-presidente Donald Trump (Republicanos) realizarão nesta quinta-feira (27), na CNN, o primeiro debate antes das eleições de novembro dos Estados Unidos. Tópicos importantes da vida americana serão abordados, mas, entre outros temas urgentes, a relação econômica do país com o mundo estará em evidência.
“Independentemente das condições do varejo brasileiro, as eleições dos EUA são acompanhadas por muitos países por conta dos impactos que as decisões econômicas terão no dólar e no mercado global”, afirmou Carla Beni, economista e professora de MBAs na Fundação Getúlio Vargas.
Em especial, o varejo brasileiro vive semanas de ‘ressaca’ após o fim do ciclo de queda da taxa Selic, a principal métrica de juros do país, que se manteve em 10,5% e frustrou tanto o mercado quanto o Governo. Uma das justificativas apresentadas pelo Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) foram os juros altos do BC dos EUA.
Entretanto, segundo avaliações de alguns especialistas, o 1º debate não deverá repercutir em terras brasileiras, mas isso não é um retrato do restante da corrida eleitoral, “A condução da política do FED (Banco Central dos EUA) será determinada pela presidência dos Estados Unidos após o resultado em novembro, e até lá, a postura do BC no Brasil será a mesma da semana passada”, argumenta Beni.
Segundo Guilherme Carvalhido, cientista social e professor na Universidade Veiga de Almeida, o varejo brasileiro poderá observar nos próximos meses as falas ‘presidenciais’ sobre o protecionismo à economia norte-americana como um farol para futuras decisões, sendo esse, um tema importante para as exportações.
“Como estamos numa economia altamente globalizada, decisões macroeconômicas de países como os EUA mudam as trajetórias internacionais e o rumo das políticas econômicas. Se Trump vencer, como já afirmou, tornará os EUA mais protecionistas para preservar as cadeias internas do país, como ele fez no primeiro mandato dele”, afirmou Carvalhido.
Juros altos
Problema recorrente tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a alta dos juros para conter a inflação foi o caminho tomado pelos Banco Centrais de ambos, e que vai de encontro à opinião popular. No Brasil, as decisões do FED (Federal Reserve) repercutem fortemente, e enquanto a taxa nos EUA for mantida em entre 5,25% e 5,50% ao ano, dificilmente haverá queda por aqui.
“Esse caminho (juros altos nos EUA) tem forte influência nos juros do Brasil devido ao poder de seu financiamento, dos empréstimos e, principalmente, pelo poder de compra do brasileiro ser muito baixo”, afirma Carla Beni.
A fórmula encontrada pelo Copom foi manter a taxa de juros alta para conter a inflação, que está acima dos 3,75%, teto estipulado pelo ministério da Fazenda, mas é considerada controlada. Esse indicativo resulta em crédito e financiamentos com taxas altas, afastando investimentos e corroendo o poder de compra.
“Os juros altos impedem o comércio de explorar o poder de compra dos brasileiros e dificulta a melhoria na alimentação e, consequentemente, na vida dos trabalhadores”, comentou Fábio Queiróz, presidente da Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro.
Tema central das campanhas de Biden e Trump, os juros nos Estados Unidos podem significar a tônica do futuro governo com as relações comerciais. Para o mercado brasileiro, os americanos são os principais compradores de alguns dos itens mais importantes da exportação nacional como milho, soja, laranja, banana e frango.
O varejo brasileiro poderá acompanhar o 1º debate presidencial dos Estados Unidos nesta quinta-feira (27), às 21:45h, em diversos canais fechados como Globonews e RecordNews. A CNN norte-americana disponibilizará transmissão ao vivo e gratuita via youtube.