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Tarifaço X Carne bovina: tudo que o supermercadista precisa saber!

09/09/2025 • Última actualización 2 Meses

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O tarifaço de 50% dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros já está provocando impactos no bolso dos norte-americanos, em especial quando trata-se da carne bovina. Nesta matéria, a ASSERJ vai destrinchar tudo que o setor supermercadista precisa saber.

Para começar, uma informação relevante divulgada nesta segunda-feira, 8 de setembro: a exportação de carne bovina brasileira deve registrar um crescimento de 12%, em 2025, em relação ao ano anterior, segundo projeção da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

De acordo com dados da entidade, os EUA foram o segundo maior destino da carne bovina brasileira no primeiro semestre deste ano, com 181.477 toneladas embarcadas — o equivalente a 12,3% do total exportado. O mercado norte-americano utiliza principalmente a carne brasileira no processamento de hambúrgueres.


Esse cenário dialoga com a análise do cientista político Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Segundo ele, ações de pressão como o tarifaço podem ter o efeito contrário ao desejado por Washington.

"O Brasil, ao longo dos últimos anos, não tem mais uma dependência excessiva dos EUA e segue ampliando a diversificação de parceiros comerciais. Isso porque, quanto mais parceiros, melhor. Isso amplia as opções do Brasil em comércio, tecnologia, investimentos e diplomacia”, afirmou Stuenkel.

O professor lembrou ainda que a busca por relações mais sólidas com China, Índia, Indonésia e Europa fortalece a autonomia brasileira e reduz vulnerabilidades em disputas internacionais, como a guerra comercial entre Estados Unidos e China.

Preço da carne vai cair no Brasil?

Nesse ponto, os analistas entendem que não haverá excesso de oferta no Brasil. Em relatório, a Scot Consultoria destacou que o volume de exportações para os EUA já vinha em queda antes da tarifa e que o redirecionamento para outros mercados está em curso.

“Após a entrada em vigor das tarifas em 6 de agosto, o volume embarcado entre 10 e 16 de agosto permaneceu dentro da média anual. Mais do que isso, os valores atingiram as máximas do ano. Ou seja, com EUA ou sem EUA, as exportações permaneceram estáveis. Parte do crescimento registrado no primeiro semestre se deve a empresas que anteciparam embarques diante da expectativa de tarifas”, avaliou a consultoria.

O que diz a Marfrig Global Foods


No setor privado, o tom também é de otimismo. Ulisses Merat, gerente regional da Marfrig Global Foods, em papo exclusivo com a ASSERJ, destacou que a empresa e outros frigoríficos brasileiros adotaram uma estratégia antecipada para diversificar mercados sem comprometer o abastecimento interno.

“O tarifaço atrapalha o mercado interno e gera especulação. Mas, por outro lado, força a indústria a buscar alternativas. Abrimos mercados como a Indonésia e outros que estavam em stand by devido ao peso das compras dos Estados Unidos. Esse volume foi redistribuído e a China já absorveu mais. Por incrível que pareça, houve o tarifaço, mas as exportações cresceram.”

Merat ressaltou ainda que o preço da carne no varejo segue sustentado por fatores como o valor da arroba do boi, o câmbio e a demanda doméstica. “O mercado interno não sofreu, pelo contrário. Continuamos abastecendo os supermercados normalmente e não houve excesso de carne, como alguns previam. Existe uma estratégia clara para manter o equilíbrio entre exportações e consumo doméstico”, completou.

Comportamento do consumidor

Outro ponto relevante para o supermercadista é a mudança no perfil de consumo. Merat, revela que no Rio de Janeiro, cortes como alcatra, contrafilé e dianteiro seguem liderando a demanda, mas há um crescimento consistente de carnes nobres e porcionadas, como picanha, ancho, baby beef e fraldinha.

Segundo o diretor da Marfrig, esse movimento está ligado ao novo estilo de vida do consumidor brasileiro. "Famílias menores, casais sem filhos ou com apenas um filho, além do aumento de pessoas morando sozinhas, impulsionam a procura por cortes menores e de preparo prático. A popularização das varandas gourmet em apartamentos também estimula o consumo de carnes nobres no dia a dia, trazendo o churrasco para dentro de casa."

O mesmo ocorre com a carne suína, que vem quebrando antigos paradigmas e ganhando espaço no varejo, de acordo com Merat. "O avanço da oferta de cortes porcionados e a percepção de qualidade sanitária semelhante à da carne bovina e de aves têm atraído novos consumidores. Apesar de ainda pouco consumida no Brasil, a carne suína cresce no ritmo da quebra de preconceitos e da estratégia dos supermercadistas em apostar nesse nicho.

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