
Autenticidade, o ativo que constrói confiança

O mercado, e consequentemente os consumidores, estão saturados de lançamentos, colaborações e inovações que mais parecem ciclos de repetições periódicas. Nesse cenário, as marcas, e o varejo supermercadista também, enfrentam um dilema essencial: como criar diferenciação quando tudo parece igual? A resposta para essa questão vital pode estar dentro do próprio negócio, basta olhar para si com autocrítica, e promover, com autenticidade, um retorno às sua origem e suas raízes.
Diversas marcas já buscam esse movimento. Um dos exemplos mais recentes é Lays, que promoveu um rebranding, se reconectando com os valores primordiais de sua história. O relatório "Gad Insights 2025", sexta edição do estudo da consultoria Gad, intitulado "O resgate das origens", se debruça extamente sobre esse tema, mostrando que o futuro do branding será construído a partir da autenticidade. Em meio ao excesso de discursos e à homogeneização das identidades, as marcas que desejam permanecer relevantes precisarão revisitar sua história, valores e propósito original para conquistar consumidores que estão redescobrindo a relevância do que é genuíno.
"As marcas que sobreviverão não são as que gritam mais alto, mas as que souberem recuperar o que lhes dá densidade, suas origens, suas histórias. Em um mercado algorítmico que produz marcas em série, a permanência nasce daquilo que resiste ao tempo", enfatiza Luciano Deos, CEO da Gad.
O cansaço da "inovação sem alma"Segundo um levantamento da WGSN, 86% dos consumidores priorizam necessidades emocionais na jornada de compra, reforçando que design e funcionalidade já não bastam. Ao mesmo tempo, um estudo da Optimove indica que 67% dos consumidores sentem "fadiga de marketing", revelando um mercado saturado de mensagens publicitárias repetitivas. Esses números descrevem um público saturado por estímulos rápidos, um ambiente onde o culto à dopamina transforma lançamentos e experiências em picos passageiros, incapazes de criar vínculo duradouro.
A consequência é clara. Em vez de singularidade, há repetições e produtos que se confundem entre si. E, apesar de toda a movimentação, somente 3% dos brasileiros afirmam ter relações significativas com alguma marca, enquanto 8 em cada 10 dizem que mudariam após uma experiência ruim, mais um sinal evidente de que a euforia momentânea não se converte em fidelidade.
Então, em um ambiente onde o cliente enxerga "mais do que mesmo", o que torna um produto único? A resposta não está somente na inovação, mas sim, na questão inicial: o retorno à origem e significado. Negócios que conseguem resgatar o porquê de sua existência constroem diferenciação autêntica junto ao consumidor. Esse retorno não significa um apego enfadonho ao passado, mas uma revalorização das raízes que sustentaram a identidade ao longo dos anos, algo cada vez mais raro em um mercado de tendências efêmeras.
Overbranding: quando a invasão da marca perde densidadeNos últimos anos, a ambição de estar em todos os lugares gerou o fenômeno que o relatório chama de "overbranding": a transformação de cada espaço cotidiano em uma vitrine, em que tudo vira marca. O resultado disso é uma "espuma cultural" de gourmetizações e experiências superficiais que esgota identidades e empobrece o sentido das marcas.
A reação é justamente o movimento de retorno, quando marcas que desistem de gritar por atenção e passam a resgatar o que lhes fornece densidade, como sua história, sua origem e as pessoas por trás do produto.
"O resgate das origens emerge como resposta à espuma do 'overbranding', a ambição de estar em todos os lugares, de ocupar cada brecha da vida cotidiana, de transformar tudo em marca. O resgate é um caminho de sustentabilidade para marcas que desejam se tornar guardiãs de significados compartilhados", destaca Luciano Deos.
A modernização que causa diluição e a reconstrução da confiançaNa busca de alcançar novos públicos, muitas empresas apostaram em processos de "modernização visual", com atualizações de logotipos e narrativas. Entretanto, na tentativa de parecerem contemporâneas, muitas entraram em um processo de diluição da própria essência. Agora, algumas estão tentando seguir o caminho inverso: reencontrar sua personalidade e significado, resgatando valores que foram, erroneamente, deixados para trás.
Esse movimento, porém, é delicado e está além de uma mera "estética retrô". Ele é uma tentativa deliberada de devolver humanidade e sentido às marcas em meio ao cenário de excesso visual e simbólico que bombardeia o mercado.
Outro ponto central do "Gad Insights 2025" é a reconquista da confiança do consumidor. Em um ambiente digital dominado por desinformação, deepfakes e inteligências artificiais, a autenticidade não é uma simples diferenciação, é um ativo estratégico. Segundo a PwC, 59% dos brasileiros preferem falar com atendentes humanos em situações complexas. Além disso, mais da metade dos consumidores já desistiu de uma compra após uma experiência ruim com atendimento automatizado.
Esses números evidenciam que, mesmo no avanço da Era da Tecnologia, a presença humana é insubstituível na construção de vínculos de confiança. Marcas que humanizam suas relações, protegem o consumidor e tornam visíveis seus processos de criação e entrega fortalecem sua credibilidade e se destacam em um mercado inundado de "promessas vazias".
O "rosto da marca"O "Gad Insights 2025" também destaca uma mudança no papel da liderança das marcas. Em um contexto de domínio de influenciadores e de consumidores desconfiados, empresas estão resgatando a figura de funcionários, como CEO's, como porta-vozes de confiança de produtos, dando credibilidade à comunicação.
De acordo com o Edelman Trust Barometer, 82% dos consumidores confiam mais em empresas cujos líderes são ativos e autênticos nas redes sociais. Isso representa mais do que apenas a personalização da marca, é a criação de um "selo" de responsabilidade e autenticidade. Mas esse movimento deve ser pautado pelo equilibro entre três pilares: carisma, exposição e coerência.
Experiências: do vazio ao sentidoA digitalização alavancou inúmeros avanços, conveniência, mas, por outro lado, também trouxe o cansaço. Segundo o relatório "The Future 100", 84% dos consumidores acreditam que as pessoas estão menos presentes por causa do excesso de tecnologia, e 85% desejam mais tempo com pessoas queridas. Esse comportamento tem se refletido no varejo e impulsionado o retorno às experiências mais simples, analógicas e presenciais.
Segundo a EY, seis em cada dez consumidores ainda preferem comprar em lojas físicas, com o objetivo de buscar vivências mais humanas e personalizadas. O desafio para as marcas, portanto, é criar experiências que devolvam ao consumidor o papel real dentro da jornada de compra, uma tendência que também impacta diretamente o varejo supermercadista, onde experiência e conexão emocional são fatores decisivos de fidelização.
Insights para o varejo supermercadistaEm um mundo de excessos e efemeridade, o futuro do branding, e do próprio varejo abastecedor, aponta para um mesmo caminho, pautado pela essência dos negócios.
- Autenticidade como ativo estratégico: marcas fortes serão as que souberem ser genuínas em propósito, narrativa e entrega;
- A saturação do novo sem emoção: a inovação perdeu força quando deixou de emocionar, pois o consumidor busca significado, não somente novidade;
- Retorno às raízes: revisitar a própria história e propósito é o novo diferencial competitivo;
- Confiança em foco: em meio à inteligência artificial e à desinformação, transparência é o novo trunfo;
- Lideranças com rosto: líderes das empresas voltam a ser vistos como símbolos de credibilidade e humanização;
- Experiências com valores: consumidores querem vivências reais e conexões tangíveis, não interações automatizadas;
- Senso de pertencimento: pertencer vale mais do que seguir;
- Trabalho com sentido: a força da marca nasce da cultura real, não do discurso;
- Foco na essência: o futuro será das marcas que sejam fiéis a quem são, sem excessos.
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