Carrefour x carne do Mercosul: “Se não serve no mercado francês, não serve em nenhum outro país”
Associações se manifestam contra fala de CEO sobre parar de comercializar carne do Mercosul
Após o CEO do Carrefour afirmar que a empresa vai parar de comercializar carne do Mercosul, associações como a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) manifestaram descontentamento com a medida.
Na última quarta-feira (20), o CEO global da rede francesa, Alexandre Bompard, publicou em suas redes sociais um comunicado no qual diz que a gigante do varejo “assume hoje o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul”, bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
O comunicado foi publicado nas contas do CEO no Instagram, X e Linkedin, sob a justificativa de ter ouvido o “desânimo e a raiva” dos agricultores franceses, que protestam contra a proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Os atos, organizados pela FNSEA e pelos Jovens Agricultores (JA), começaram na última segunda-feira, 18, com bloqueios de rodovias e fogo em objetos.
Mas em comunicado, o Grupo Carrefour Brasil disse que a medida “em nada muda nas operações no país”, indicando que os supermercados do grupo em território nacional irão continuar comprando carne de frigoríficos brasileiros.
“Visão errônea”
Em nota, a ABPA chama a declaração de infeliz e infundada. “A argumentação é claramente utilizada para fins protecionistas, ressonando uma visão errônea de produtores locais contra o necessário equilíbrio de oferta de produtos de seu próprio mercado – o que se faz por meio da complementariedade, com produtos de alta qualidade e que atendam a todos os critérios determinados pelas autoridades sanitárias dos países importadores, como é o caso da proteína brasileira”, informa o texto publicado.
A associação afirma ainda que “o protecionismo é, também, uma atitude de desrespeito aos princípios de sustentabilidade”. E finaliza:
“Ao impulsionar o bloqueio injustificado a produtos provenientes de regiões com melhor capacidade de produção com respeito às questões ambientais, o Senhor Bompard coloca os consumidores de suas lojas em uma lógica de consumo com mais emissões e sob maior pressão inflacionária e menor acesso às classes menos favorecidas.”
Para a ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), o posicionamento de Bompard “vai contra os princípios do livre mercado e é contraditório, vindo de uma empresa que opera cerca de 1.200 lojas no Brasil, abastecidas majoritariamente com carnes brasileiras, reconhecidas mundialmente por qualidade e segurança”.
A nota da entidade, assinada por outros representantes do setor como ABPA, ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), SRB (Sociedade Rural Brasileira) e FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), lembra que periodicamente as empresas são auditadas e certificadas por centenas de missões sanitárias internacionais e também por clientes que confirmam a segurança de alimentos do que vai para cada destino.
E afirma que o bloco é líder mundial na exportação de carne de frango e bovina e está entre os principais na suína.
“Foram necessárias décadas para que o Mercosul por inteiro avançasse em sua reputação internacional como produtor de carnes. Com responsabilidade, o setor na região foi o principal fornecedor para todos os mercados durante a maior crise global de saúde pública neste século, a pandemia do coronavírus em 2020 e 2021.”
E finaliza:
“Portanto, se o CEO Global do Grupo Carrefour, Alexandre Bompard, entende que o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês – que não é diferente do espanhol, belga, árabe, turco, italiano –, as entidades consideram que, se não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país.”