Aumento do diesel e taxação do aço: como essas medidas podem impactar o varejo supermercadista? Confira entrevista exclusiva com professor da FGV, Ricardo Teixeira

O custo do transporte é um dos principais fatores que influenciam os preços no varejo supermercadista, e o recente aumento no valor do diesel pode afetar diretamente a cadeia de abastecimento. Além disso, será que a taxação do aço e do alumínio anunciada pelo governo dos Estados Unidos pode gerar reflexos na economia brasileira e no setor supermercadista?

Para entender melhor esses impactos no curto e médio prazo, a ASSERJ entrevistou com exclusividade Ricardo Teixeira, professor de finanças da FGV, que traz uma análise detalhada sobre os desafios e possíveis desdobramentos dessas medidas para o setor. Confira:

  • Como o aumento do diesel pode impactar a cadeia de abastecimento dos supermercados no curto e médio prazo?

Os produtos de maior giro, que são comprados com mais frequência pelos supermercados, serão os primeiros a sentir o impacto. No momento, os itens já adquiridos estão nas prateleiras e não devem ter alteração de preço, até porque não estamos enfrentando uma inflação por demanda. Os varejistas seguem sua programação normal de vendas. No entanto, nas próximas compras, quando novos lotes começarem a chegar, o impacto do aumento do custo do diesel será mais perceptível, especialmente nesses produtos de reposição rápida.

  • Na sua opinião, quais produtos dentro dos supermercados devem sentir o impacto mais rapidamente e por quê?

“Neste momento, não é possível fazer uma projeção exata da inflação. O impacto dependerá de como os diferentes agentes da cadeia – produtores, transportadoras e, por fim, os varejistas – irão reagir ao aumento do custo do diesel. Não existe uma fórmula única que todos sigam da mesma maneira, então qualquer estimativa agora seria apenas um indicativo sem uma base numérica sólida.

  • O senhor acredita que há risco de repasse imediato desse custo ao consumidor final? Se sim, daria para fazer uma estimativa de impacto na inflação dos alimentos?

Sim, nos produtos de maior giro, que os supermercados compram com frequência, como semanalmente, é provável que o repasse ocorra assim que o aumento do custo do transporte for incorporado na entrega. Esses itens devem sofrer reajustes rapidamente. Dessa forma, nas próximas semanas, já devemos perceber uma mudança de patamar nos preços desses itens, especialmente os de menor valor agregado, devido ao encarecimento do transporte.

  • Sobre o anúncio da cobrança de 25% nas importações de aço, de que forma essa taxação pode afetar o Brasil, considerando nossa posição como um dos principais exportadores de aço e alumínio para os EUA?

O nosso produto será taxado pelo governo americano, não pelo governo brasileiro. Isso significa que continuaremos exportando basicamente pelo mesmo preço que antes, mas, ao chegar nos Estados Unidos, o produto sofrerá essa taxação – ou pelo menos essa é a intenção anunciada pelo governo americano. Prefiro dizer ‘anunciada’, porque essa decisão ainda pode ser revista, seja na alíquota exata ou até mesmo no aumento como um todo.

Agora, o impacto real dessa medida dependerá das condições do mercado. Se a demanda nos Estados Unidos estiver aquecida, o país continuará comprando, mesmo com a nova taxação. Mas se o mercado interno americano ou outros fornecedores – que não estejam sujeitos à mesma taxação ou tenham taxas menores – conseguirem suprir essa demanda, podemos enfrentar maior concorrência e possíveis dificuldades na venda do produto brasileiro.

O que precisamos observar é se haverá fornecedores alternativos capazes de atender o mercado americano ou se os próprios Estados Unidos conseguirão aumentar sua produção para suprir essa necessidade. Caso a economia americana se aqueça, como o presidente Donald Trump planeja, a tendência é que o país continue importando em volumes significativos. Nesse cenário, o Brasil manteria sua relevância como fornecedor estratégico, já que nossa capacidade produtiva não pode ser facilmente substituída.

  • O impacto dessas medidas pode chegar ao varejo supermercadista? Por exemplo, encarecendo equipamentos, prateleiras e embalagens?

Não há motivo para que uma medida como essa, tomada pelo presidente Trump, encareça os produtos aqui no Brasil. Se houver qualquer aumento de preços, não será uma consequência direta dessa taxação. Na verdade, se a exportação para os Estados Unidos diminuir, poderíamos até ter uma redução de preços no mercado interno, caso haja espaço para isso. Ou seja, não existe uma relação automática de causa e efeito, mas o comportamento do mercado sempre pode surpreender.

Por Publicado em: 12 de fevereiro de 20250 Comentários