Como o acordo entre EUA e China pode afetar preços e abastecimento nos supermercados do Rio?

A aproximação comercial entre Estados Unidos e China anunciada nesta segunda-feira, dia 12 de maio, marcada pela redução mútua de tarifas sobre produtos agrícolas, pode ter efeitos indiretos sobre os supermercados do Rio de Janeiro. Embora o acordo envolva dois gigantes do comércio global, suas consequências se estendem ao Brasil, que nos últimos anos assumiu papel de destaque como fornecedor de alimentos para o mercado chinês.
Durante o auge da guerra comercial entre EUA e China, a imposição de tarifas sobre commodities como soja, milho, carnes e algodão levou os chineses a buscarem fornecedores alternativos — e o Brasil se beneficiou diretamente desse movimento. No entanto, com o novo entendimento entre Washington e Pequim, especialistas alertam para uma possível retração na demanda chinesa por produtos brasileiros, o que pode gerar uma oferta maior no mercado interno.
De acordo com o consultor econômico da ASSERJ, William Figueiredo, “Se os Estados Unidos voltarem a ocupar espaço na exportação para a China, o Brasil tende a ter mais produto disponível no mercado interno, o que pode impactar positivamente os preços para os varejistas locais. Mas esse cenário ainda depende de como o mercado internacional vai reagir à nova política tarifária.”
Por outro lado, os supermercados do Rio de Janeiro também precisam estar atentos à volatilidade. “Caso o Brasil perca competitividade nas exportações, produtores locais podem buscar compensações nos preços internos. Isso pode manter os custos elevados ou instáveis, dificultando o planejamento de compras e a manutenção de preços acessíveis nas prateleiras”, explica William Figueiredo.
Segundo dados da Nielsen Brasil, os alimentos representam cerca de 65% do faturamento dos supermercados, com produtos como carnes, grãos e lácteos liderando a lista. Em momentos de oscilação cambial ou variações no mercado internacional, o setor sente os reflexos de forma quase imediata.
Diante desse cenário, o consultor da ASSERJ sugere que os varejistas cariocas invistam em alternativas estratégicas para reduzir a dependência de commodities com preços atrelados ao mercado externo. “Diversificar fornecedores e fortalecer parcerias regionais pode ser uma saída para mitigar os efeitos das oscilações internacionais.”
Além disso, a logística se torna uma aliada essencial nesse novo contexto. Supermercados com cadeias de suprimento bem estruturadas, capazes de responder com agilidade às mudanças de mercado, tendem a lidar melhor com os impactos — tanto positivos quanto negativos — das políticas comerciais globais.
“Em um mundo cada vez mais interconectado, até mesmo os acordos firmados entre potências distantes podem mudar a dinâmica do varejo local. E, neste jogo de equilíbrio entre oferta, demanda e custo-benefício, os supermercados do Rio precisarão manter a atenção redobrada para garantir competitividade e abastecimento sem pesar no bolso do consumidor”, ressalta William Figueiredo.