50+: seu supermercado está realmente preparado para esses consumidores?

Apesar de representarem uma parcela significativa dos gastos com alimentos, produtos de higiene e suplementos — além de passarem mais tempo dentro das lojas — os consumidores com mais de 50 anos ainda são pouco considerados nas estratégias da maioria dos supermercados. “Muitos varejistas estão de olho na próxima geração, sejam os millennials ou a Geração Z”, afirma Carol Bartolo, vice-presidente da BRR Architecture. “Raramente se fala nos consumidores mais velhos, mas esse é um público em expansão. Ignorá-lo é um erro estratégico.”
Especialista em projetos de construção e design de lojas, Bartolo acredita que a experiência no ponto de venda pode ser decisiva para conquistar — ou afastar — esse perfil de consumidor. “Uma boa iluminação é essencial — não apenas por uma questão estética ou de segurança, mas porque muitos idosos têm restrições alimentares e precisam ler rótulos com clareza”, diz. O uso de cores contrastantes também faz diferença: tons mais sutis tendem a se tornar menos perceptíveis com o avanço da idade.
A mobilidade dentro da loja é outro ponto de atenção. “Existe a ideia de que todos os idosos usam bengalas ou cadeiras de rodas, então se criam corredores largos demais. Sim, é importante garantir espaço livre, mas não é preciso transformar tudo em uma supervia”, pondera.
Pensar em soluções práticas também faz parte da inclusão. “Detesto dizer isso, mas às vezes você não quer ficar atrás de um idoso na fila, porque eles podem demorar mais. Um caixa exclusivo, com mais suporte, pode fazer a diferença”, sugere. Bartolo também destaca a importância de transformar o supermercado em um espaço de convivência: “Minha mãe vai ao supermercado para socializar. Ter uma área comunitária ou um refeitório, como algumas redes já oferecem, ajuda muito. Já vi idosos jogando, se reunindo, participando de aulas. Isso enriquece a experiência.”
Jeff Weiss, presidente e CEO da Age of Majority — empresa especializada no público acima dos 55 anos — reforça que a tecnologia, quando faz sentido, é bem-vinda. “Compradores mais velhos adoram um bom desconto, e nossa pesquisa mostra que 70% usam cupons digitais. Ao contrário do que muitos pensam, eles não são avessos à tecnologia. Se ela for prática, eles aderem”, afirma.
Outro equívoco comum é imaginar que consumidores maduros evitam novidades. “A maioria quer experimentar coisas novas — só precisa de um bom motivo. Quando se trata de alimentação, eles gostam de novas ideias, principalmente quando são variações de clássicos”, explica. Segundo Weiss, uma estratégia eficaz é oferecer degustações no ponto de venda: “Descobrimos que 73% dos adultos mais velhos compraram algo depois de experimentar. Se houver um cupom junto, melhor ainda.”
Além da experiência, o conteúdo dos produtos também pesa na decisão de compra. “Geralmente, idosos lidam com mais questões de saúde, então prestam atenção em itens com mais proteína, mais fibras, menos sódio e açúcar. Os varejistas podem facilitar esse processo com uma comunicação mais clara”, completa.
Estratégia de varejo
Na visão de DeAnn Campbell, estrategista de varejo do AAG Consulting Group, tornar a jornada de compra mais simples e acessível deve ser prioridade. “Muitos varejistas estão reduzindo o sortimento nas lojas para cortar custos, mas isso prejudica a experiência dos idosos. As prateleiras precisam estar sempre bem abastecidas”, alerta.
Ela também chama atenção para questões práticas, como a escolha dos carrinhos de compras. “Recentemente, ajudei um senhor com andador que usava o carrinho como apoio. Mas a loja só tinha modelos pequenos. Os carrinhos precisam ser estáveis e leves”, afirma.
Outro detalhe que costuma passar despercebido é o som ambiente. “A audição de agudos começa a se deteriorar já a partir dos 40 anos. Música alta nos alto-falantes pode ser um incômodo sério para os mais velhos”, diz.
Por fim, Campbell recomenda uma organização mais estratégica dos produtos. “Agrupar itens que costumam ser comprados juntos — como carne e legumes — facilita para quem tem dificuldades para circular pela loja. Algumas redes já colocam produtos em mais de um local, o que ajuda todos os públicos, mas especialmente os idosos.”
Em um mercado cada vez mais competitivo, atender bem o público maduro — com empatia, planejamento e inteligência comercial — pode ser a chave para fidelizar consumidores que não apenas compram mais, mas que também valorizam a experiência e o vínculo com a marca.